Quinta-feira, 06 de março de 2025
Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2024
A campanha eleitoral só começa no dia 5 de agosto, mas até o final de julho já haviam sido registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) 3.604 pesquisas para prefeito e vereador em todo o País. Somadas, tiveram valor declarado de R$ 35,2 milhões e envolveram 1,89 milhão de entrevistas, total ligeiramente superior ao eleitorado de Fortaleza, sexto maior colégio eleitoral do País.
O custo médio por entrevista, acordo com os dados do TSE, é de R$ 18,64, sendo que há levantamentos que gastam menos de R$ 10 por entrevistado. É um preço pelo menos cinco vezes menor do que o cobrado pelos maiores institutos.
A profusão de baixo custo tem relação direta com a reta final das convenções partidárias. “Essas pesquisas com preço abaixo de custo, irreais, são feitas para fazer crer que fulano ou sicrano são candidatos viáveis. Servem como fator de persuasão nas convenções, já que toda campanha no Brasil hoje é bancada pelas direções partidárias”, aposta João Francisco Meira, da Vox Populi de Belo Horizonte, integrante do Conselho Superior da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep), que acredita que o manancial de pesquisas deve refluir quando o cenário afunilar e permanecerem na corrida apenas os candidatos oficiais.
O perfil de empresa de pesquisa que predomina é pequeno. “Trabalhamos sempre com quatro ou cinco pessoas. Um motorista que é coordenador, e mais três entrevistadores, ou um motorista, um coordenador e quatro entrevistadores. A gente prefere ganhar pouco com muita pesquisa do que muito com pouca. Cada entrevistador faz a coleta por um aplicativo no celular, não tem questionário no papel. Quando termina a coleta, já está pronta aqui no escritório”, comenta Ari Carlos Nascimento, da Seculus, de Salvador (BA) que cobra em torno de R$ 10 por entrevista. Nascimento tem em seu currículo ter sido secretário municipal em Jequié e “ser sócio de estatístico”.
A Seculus fez nada menos que 96 pesquisas este ano na Bahia, com 52 mil entrevistas, 10 delas com recursos próprios. Nascimento admite que usou um artifício para registrar os levantamentos. “Isso é mais uma filigrana da lei que nos obriga a fazer isso. Se eu faço para outro cliente, eu tenho que emitir nota fiscal e como às vezes o interessado pede a pesquisa em um sábado ou domingo, pra sair antes da convenção, pra divulgar na rádio dele ou rede social… Aí a gente aparece como contratante, para não emitir nota fiscal, mas é claro que depois cobramos o cliente, entendeu?”
De acordo com resolução do TSE, uma empresa de pesquisas pode registrar uma pesquisa como sendo de recursos próprios, desde que comprove ter recursos para isso, por meio de um documento específico. Como o valor declarado é muito baixo, não é muito difícil a comprovação da capacidade.
A Procuradoria-Geral Eleitoral afirmou que cabe aos promotores eleitorais na primeira instância apurar eventuais irregulares e que o controle judicial prévio não é possível. O Tribunal Superior Eleitoral, também por meio da assessoria de imprensa, afirmou que “a análise do conteúdo desses registros pela Justiça Eleitoral somente será feita quando acionada pelas partes legitimadas, conforme aponta a resolução”. As partes, no caso, são candidatos, partidos e federações “Ao se tratar, especificamente, de pedido de fiscalização, verificação e impugnação das pesquisas eleitorais no âmbito das eleições municipais, as partes legitimadas devem direcionar seus requerimentos ao Juízo Eleitoral definido como competente pelo respectivo TRE”, diz a nota.