Quarta-feira, 22 de outubro de 2025

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Cinema Um filme sobre a estupidez contemporânea

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Jonan Hill, Meryl Streep, Jennifer Lawrence e Leonardo DiCaprio. (Foto: Divulgação)

O tema principal dos filmes de Adam McKay é a estupidez contemporânea. É uma estupidez recheada de consumismo e narcisismo, mimada pelo conforto de não precisar fazer nada e só xingar muito ou fazer piada na internet. Já acontecia quando McKay dirigia comédias com Will Ferrell (“Quase irmãos”, por exemplo), mas assumiu dimensões mais ambiciosas quando ele passou a tratar de temas políticos, como em “A grande aposta” (sobre a crise financeira de 2008) e “Vice” (sobre Dick Cheney, vice de George W. Bush). Em “Não olhe para cima”, assim como nos anteriores, ele constrói um amplo panorama de sociedade – envolvendo os meios de comunicação e as redes sociais – para expor a corrupção endêmica, o individualismo e a frivolidade brutal de nosso tempo, sem qualquer horizonte para projetos coletivos.

“Não olhe para cima” é uma sátira sobre nossa reação diante do colapso climático vindouro. É basicamente sobre os EUA, mas isso não impede que tracemos diversos paralelos com outros países e outras crises, no caso Brasil e Covid-19: a infantilização dos meios de comunicação é a mesma e o poder do negacionismo é igual. E Adam McKay filma isso tudo com o desespero existencialista de um Bergman? Não, ele filma o mundo dos poderes e da mídia como eles merecem ser filmados: como um circo.

Dois cientistas descobrem um cometa que vai se chocar com a Terra, destruindo a vida no planeta. Eles alertam a presidente do país. Nada acontece. Eles vão a um programa de TV superpopular que só tematiza amenidades: viram meme. A diretora da Nasa, que não é astrônoma e sim uma anestesista que doou dinheiro para a campanha da presidente, nega a versão deles. Mas depois confirma porque a presidente está envolvida num escândalo por ter nomeado o namorado ator pornô para a Suprema Corte, e usa o fim do mundo iminente apenas como estratégia diversionista. O filme ainda trata de nepotismo, fisiologismo, oportunismo, abuso gratuito de poder e, naturalmente, do poder privado sobre o público, na figura de um magnata tecnológico nos moldes de Elon Musk e Steve Jobs (em extraordinária performance de Mark Rylance, como um narciso lobotomizado), que no fim das contas dá ordens à presidente americana.

Como sátira que é, “Não olhe para cima” trabalha com caricaturas e simplificações. Mas, como o mundo do poder já perdeu qualquer noção de decoro, o filme soa como um retrato realista (o “não olhe para cima” do título refere-se a não olhar para o cometa, ou seja, negar a realidade; alguma semelhança com o infame “Placar da vida”?). Filmar o fim do mundo em tom de galhofa, convenhamos, não é fácil. Adam McKay só realiza seu intento porque no fundo é um verdadeiro cineasta brechtiano: ele usa humor, velocidade, cortes bruscos, narrativa híbrida, incorporação da recepção pública (via tuítes, vídeos de YouTube etc.) e a famosa quebra da quarta parede – quando o ator se dirige diretamente à câmera – para desarmar o espectador e jamais deixá-lo confortável de estar apenas fruindo um entretenimento. O filme não é sobre a inteligência de Adam McKay ao retratar a realidade. Não é tampouco, ou somente, sobre o fim do mundo. É sobre você. É sobre nós.

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https://www.osul.com.br/um-filme-sobre-a-estupidez-contemporanea/ Um filme sobre a estupidez contemporânea 2022-01-03
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