Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2021
Diante do aumento do consumo de cannabis pelas mulheres, há maiores chances de os profissionais da saúde se depararem com gestações expostas a essa substância e com os consequentes prejuízos para a mãe, o feto e o desenvolvimento do bebê. No entanto, verifica-se um despreparo de algumas equipes de saúde para lidarem com essa questão. Um estudo conduzido na França, revelou a necessidade de preparar os profissionais para a identificação precoce do uso de cannabis e de seus efeitos para mãe, feto e bebê. Os autores verificaram que apenas metade dos ginecologistas, obstetras, doulas e clínicos gerais perguntavam às gestantes sobre seu consumo de drogas, e a maioria não se sentia informada o suficiente sobre os riscos desse consumo no período, sendo que os profissionais que trabalhavam no momento do parto apresentavam melhor percepção dos riscos desse consumo.
Diante da interrupção do consumo de cannabis antes, durante ou após a gestação, é importante que o profissional prepare a mulher para o possível surgimento de sintomas da síndrome de abstinência: fraqueza, hipersonia, retardo psicomotor, ansiedade, inquietação, depressão, insônia. Em geral, os sintomas aparecem 24 horas após a cessação e atingem maior intensidade entre 2 e 3 dias.
Destaca-se que o uso agudo da cannabis durante a gravidez pode levar a descarga simpática, com taquicardia, congestão conjuntiva e ansiedade; além disso, pode potencializar a ação de anestésicos no sistema cardiovascular e agir como depressora do sistema nervoso central.
Pesquisas demonstraram que o consumo de cannabis pode influenciar o desenvolvimento fetal. Para se avaliar o risco de impactos, leva-se em consideração o tempo de exposição, a dose, a via de administração, o uso de outras drogas e outros fatores sociais e genéticos.
A restrição do crescimento fetal é considerada a maior complicação nesse cenário. Por ser altamente lipossolúvel, o tetraidrocanabinol (THC) principal componente psicoativo da maconha atravessa a barreira da placenta e prejudica o crescimento do feto, causando retardo no desenvolvimento do sistema nervoso, distúrbios neurocomportamentais, más-formações congênitas, prejuízos no sistema cardiovascular e no sistema gastrointestinal.
O prejuízo no desenvolvimento neurológico do feto gera alterações comportamentais no recém-nascido, sendo que os seguintes sintomas podem ser observados: maior inquietude, desatenção, estresse, menor sensibilidade a estímulos externos, mais choro, maior dificuldade para ser acalmado em crises de choro, sono conturbado, com dificuldade para acordar, mais tremores e movimentos bruscos. Ainda que esses sintomas possam ser sutis e não ser detectados pelos pais, os profissionais da saúde devem investigá-los e realizar as intervenções necessárias. Estudo Canadense recente de 2020 realizado na Universidade de Ottawa, constatou que o risco de autismo duplica em filhos de mulheres que usaram cannabis na gravidez. Tendo em vista o futuro da criança, há perspectivas de melhora desses danos iniciais, uma vez que o desenvolvimento do cérebro é influenciado pelo meio e outros fatores biológicos. Sendo assim, a forma como esses bebês são criados é também determinante, especialmente com relação a afeto, estimulação, atenção e cuidado. Mas para que correr riscos?
Portanto, o uso de cannabis na gravidez é subestimado e negligenciado. O principal componente psicoativo da maconha, o THC, pode levar a danos no desenvolvimento fetal que implicam em atrasos de desenvolvimento que podem ser temporários ou permanentes uma vez que o desenvolvimento cerebral é influenciado por fatores biológicos e ambientais. De qualquer forma os profissionais de saúde precisam estar melhor preparados para a abordagem correta das possíveis gestantes que continuam fumando maconha na gravidez a fim de prevenir danos futuros até irreversíveis ao filho gerado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.