Quarta-feira, 04 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 11 de maio de 2021
Existem poucos lugares no mundo mais fáceis de ser vacinado contra a covid-19 do que em Hong Kong (China). As vacinas são gratuitas e estão disponíveis para todos com mais de 16 anos. Os agendamentos são feitos em um site do governo fácil de navegar, e as pessoas podem entrar e sair dos 29 centros de vacinação espalhados pela cidade em 20 minutos.
Além disso, podem escolher entre dois imunizantes: o desenvolvido pela chinesa Sinovac/Biotech ou o da Pfizer/BioNTech, considerado o mais eficaz do mundo. A maioria das pessoas, no entanto, tem evitado a vacinação.
De acordo com dados da Bloomberg, desde o fim de fevereiro foram administradas doses que cobriram 11,6% da população de 7,5 milhões. A proporção está abaixo de líderes como o Reino Unido, com 39,7%, e de Cingapura, com 19,4%, onde a demanda pelas doses disponíveis é tão alta que a maioria da população adulta ainda não teve acesso.
Em Hong Kong, existem tantas doses disponíveis que o governo avisou que algumas vão expirar em setembro. No domingo (9), os agendamentos para vacinas caíram para o nível mais baixo em um mês, com apenas 2.100 doses para a CoronaVac e 6.800 da Pfizer/BioNTech.
A situação destaca Hong Kong como exceção global. Enquanto outras economias desenvolvidas com altos estoques de vacinas, como Alemanha, Reino Unido ou Estados Unidos, veem a relutância em relação às vacinas como um desafio a ser superado, Hong Kong enfrenta ceticismo desde o início, reforçado por uma falha de comunicação entre o governo impopular e não eleito e a população.
O baixo número de doses aplicadas deve atrasar ainda mais o retorno da cidade à normalidade e prejudicar sua atratividade como um centro de negócios, em meio a sinais de êxodo de expatriados e residentes. O presidente da Autoridade Monetária de Hong Kong, Eddie Yue, disse que a baixa taxa de vacinação pode levar empresas internacionais a questionarem se devem estabelecer uma base na cidade.
A relutância em relação às vacinas tem sido geralmente maior na região da Ásia-Pacífico, onde o controle da covid-19 levou a população a não temer tanto a doença. Hong Kong registrou menos de 12 mil casos e 210 mortes desde o início da pandemia, enquanto Taiwan, Cingapura, Nova Zelândia e Austrália foram igualmente menos afetados pela doença.
O que torna a dinâmica mais difícil de resolver em Hong Kong é a desconfiança decorrente dos protestos sem precedentes em 2019, bem como a repressão que se seguiu do governo de Pequim e de autoridades locais, que restringiram liberdades políticas fundamentais.
“Não vou tomar a vacina porque meus amigos e eu simplesmente não queremos seguir nenhuma instrução ou recomendação do governo”, disse uma estudante de 16 anos que se identificou como Chau. “Não confio em nada deles. Faremos o nosso melhor para resistir e lutar contra o governo da maneira que ainda podemos.”
Conspiração
Elaine Tsui, professora de psicologia da saúde na Universidade Batista de Hong Kong, disse que a hesitação em se vacinar é motivada por três fatores psicológicos: conveniência, complacência e confiança. É fácil ser vacinado na cidade, mas há uma grande complacência devido à percepção de que a covid-19 não representa uma ameaça significativa à saúde dos residentes.
Informações na mídia reforçam essa percepção, disse. Em Hong Kong, incidentes médicos ou mortes de pessoas depois de serem vacinadas são amplamente divulgados, embora alguns tenham pouca relação com as vacinas.
Em um exemplo, um homem de 41 anos morreu neste mês cinco dias após um acidente em que uma barra caiu sobre seu peito em uma academia durante um treino, e informações da mídia acrescentaram que ele havia tomado a vacina BioNTech anteriormente. Ao todo, 16 pessoas morreram depois de tomar a vacina da Sinovac, embora o governo afirme que nenhuma delas esteve relacionada ao imunizante.