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Celebridades Fabio Assunção diz que “vício não é uma questão de caráter”

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"O vício não é uma questão de caráter, ou de escolha. Não é você aceitar uma propina. É impulsão, compulsividade. Não tem a ver com classe social", disse o ator.(Foto: Reprodução/Instagram)

Nos últimos tempos, Fabio Assunção tem sido alvo de uma série de episódios desconfortáveis: memes que viralizam nas redes sociais; a divulgação de uma música, em fevereiro, fazendo piada com sua condição de dependente químico; e, em junho, o vazamento de um vídeo íntimo, antigo, em que o ator aparece alterado.
Aos 48 anos, Fabio se manteve calado. Fez apenas declarações pontuais, como quando informou ter chegado a um acordo com a banda baiana La Fúria para que o valor arrecadado com a tal “música-piada” fosse destinado a organizações de prevenção e o apoio a usuários de drogas.

Agora, pouco depois de finalizar as gravações da série “Onde está meu coração”, em que interpreta o pai de uma médica dependente de crack, o ator decidiu que era hora de falar. Fabio fala abertamente sobre drogas, o modo como reagiu aos episódios recentes e sua trajetória de ator. Em 2020, ele festeja 30 anos de percurso. Leia trechos da conversa a seguir:

1) Você acaba de gravar a série “Onde está meu coração” (para o Globoplay), em que vive o pai de uma dependente de crack. O convite para o papel te perturbou de alguma maneira?

Sempre busco uma profundidade nas almas das personagens que faço, entender quem são essas figuras. E, quando fui convidado, vi essa possibilidade. É uma série que discute a família. A dependência na família tem que ser debatida abertamente. Um dos grandes problemas da dependência é as pessoas terem vergonha de falar sobre ela, porque dificulta o processo de reequilíbrio. Além disso, tem 29 anos que faço televisão, o espaço da dramaturgia é um lugar que conheço bem, em que me sinto muito confortável para discutir qualquer tema.

2) E como o tema é tratado na série?

A personagem da Letícia Colin é uma médica de 30 anos que usa drogas e esconde isso das pessoas com quem convive, ela vai para uma salinha do hospital fumar crack, por exemplo. O pai também é médico, bem na vida, mas no desespero tenta interná-la sem o seu consentimento. Qual é a dificuldade de entender que o vício faz parte dos buracos que a gente tem na alma? O vício não é uma questão de caráter, ou de escolha. Não é você aceitar uma propina. É impulsão, compulsividade. Não tem a ver com classe social. Não está ligado a pretos e pobres, de comunidades, que são absolutamente estigmatizados. A ilegalidade da droga é colocada como uma forma de você segregar toda uma população que é excluída do nosso sistema branco de consumo. A série vai trazer estas questões à tona. É uma hipocrisia a sociedade não falar sobre esse tema, uma vez que é uma sociedade que se medica o tempo todo, com produtos lícitos ou ilícitos.

3) Você tem pesquisado muito sobre drogas e dependência química. Motivado pela série, ou o interesse é anterior a ela, por sua própria condição?

Primeiro, tem uma questão de experiência pessoal, das coisas que passei. Através do meu processo de drogadição, conheci pessoas de todos os tipos, e fui formando meu ponto de vista. A quem interessa a ilegalidade das drogas? A quem interessa a internação compulsória? A muitos setores, menos ao usuário, ao dependente. Porque se fosse uma coisa conversada, aberta e exposta, uma questão de saúde — como de fato é — essa tensão seria diluída. Mas muitas instituições ganham com o fato de ser ilegal. Também me interessei pelo tema porque, a convite do Lula, integrei uma comissão, com psiquiatras e profissionais que trabalham com gestão pública de saúde. A ideia era ter uma política de drogas renovada, com novas ideias, novas perspectivas para o Brasil. Porque uma parte do mundo parece estar trabalhando para informar, entender melhor processos como o das drogas, depressão, pânico. E a sensação que tenho é que outra parte do mundo quer voltar para trás.

4) Fabio, estamos falando aqui em quebrar estigmas, tratar a adição como uma questão de saúde, que afeta muitas famílias. Então acho importante nomear as coisas. Qual foi a droga que te causou dependência, cocaína?

Sim. Já superei essa questão, isso não faz mais parte da minha vida, graças a Deus. Quando esse processo cessou, há quatro, cinco anos, achei que o álcool, aceito socialmente, poderia ser um caminho secundário, alternativo, para poder lidar com algumas coisas sem as consequências de uma droga pesada. Mas é preciso contextualizar isso. Herdei conceitos de que a droga tinha a ver com liberdade, com a subversão de um sistema castrador, era uma outra época.

5) E hoje, como você está?

Hoje tenho uma vida absolutamente normal. Posso tomar uma taça de vinho? Posso. Dois copos de cerveja? Posso. Mas, se beber mais do que isso, vai me fazer mal. E sinto que preciso falar com as pessoas sobre isso. Porque sei o quanto o silêncio dificulta ainda mais o processo de evolução de qualquer pessoa, o quanto o silêncio afunda mais as pessoas nos seus medos e depressões. É o princípio do AA, a roda de partilha, onde as pessoas se igualam e partilham suas vivências. Para sair desse lugar de silêncio, de vergonha, e entrar em outro, de escuta, em que a sociedade tenha compreensão sobre esse tema.

 

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https://www.osul.com.br/o-ator-fabio-assuncao-diz-que-o-vicio-nao-e-uma-questao-de-carater/ Fabio Assunção diz que “vício não é uma questão de caráter” 2019-08-19
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