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Por Redação O Sul | 17 de maio de 2018
O papa Francisco se dispôs a tomar medidas severas, fazer “mudanças e resoluções” dentro da Igreja do Chile, ao fim de três dias de reuniões no Vaticano após os escândalos por abusos sexuais cometidos por religiosos nesse país. Em uma carta divulgada nesta quinta-feira (17) e entregue aos 34 bispos convocados pelo papa ao Vaticano, o chefe da Igreja Católica anunciou que está disposto a tomar medidas “em curto, médio e longo prazo” contra a hierarquia da Igreja, responsável por ter encoberto por décadas “abusos sexuais e de poder” cometidos por religiosos contra menores de idade.
“Agradeço a plena disponibilidade que cada um manifestou para aderir e colaborar em todas as mudanças e resoluções que teremos que implementar em curto, médio e longo prazo”, escreveu o papa argentino. Tratam-se de medidas “necessárias para restabelecer a Justiça e a comunhão eclesial”, explicou o pontífice.
No entanto, ele não anunciou ainda nenhuma medida concreta, muito menos as renúncias do bispo de Osorno, Juan Barros, e do arcebispo emérito de Santiago, Francisco Javier Errázuriz, cobradas por vítimas de pedofilia. Elas acusam os dois prelados de terem acobertado os casos de abuso sexual envolvendo o padre Fernando Karadima, já condenado pelo Vaticano e recentemente internado para tratar de um sangramento no nariz.
“À luz destes dolorosos eventos relativos aos abusos – de menores, de poder e de consciência -, aprofundamos a gravidade da situação e as trágicas consequências sobre as vítimas”, disse o papa, que convocou a reunião após um relatório do arcebispo de Malta, Charles Scicluna, apontar a real extensão do escândalo no Chile.
O próprio Francisco admitiu que cometera um “grave erro de avaliação” sobre a situação e recebeu três vítimas de Karadima no Vaticano, poucos meses depois de tê-las acusado de “caluniar” Barros, durante sua viagem ao Chile.
Durante a reunião com os bispos chilenos, o papa teria lido um trecho de São Paulo que fala sobre a importância de “se dar um passo atrás”, então a hipótese de algumas renúncias permanece viva.
Entenda
O escândalo de pedofilia no Chile gira em torno do padre Fernando Karadima, 87 anos, condenado pelo próprio Vaticano por violência sexual contra menores. No entanto, as vítimas também acusam o bispo de Osorno, Juan Barros, 61, de ter acobertado os casos.
Em sua visita ao Chile, em janeiro, o papa chegou a dizer que as denúncias contra Barros eram “calúnias”, o que provocou a ira das vítimas e críticas até do cardeal Sean O’Malley, líder da comissão antipedofilia criada pelo Pontífice.
Já na viagem de volta a Roma, Francisco pediu desculpas por ter contestado os relatos das vítimas, e, pouco depois, enviou Scicluna para aprofundar as investigações no país latino. O relatório produzido por ele tem 2,3 mil páginas e depoimentos de 64 vítimas e parentes de pessoas afetadas por casos de abuso.
Após ler o documento, que cita outros episódios de acobertamento, o papa admitiu que cometera “erros de avaliação” sobre o escândalo e convidou os sobreviventes – como eles próprios se autodenominam – para o Vaticano.