Segunda-feira, 21 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 8 de outubro de 2020
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) atendeu a um pedido feito pelo Ministério da Agricultura e Pecuária e liberou, na quarta-feira (7), o uso dos estoques remanescentes do agrotóxico paraquate, que já foi banido pela União Europeia, que é suspeito de provocar danos à saúde.
O paraquate é um herbicida de amplo espectro utilizado em praticamente todo o país para o combate a ervas daninhas e também usado como dessecante em lavouras.
Esse tipo de defensivo agrícola, segundo estudos, está associado ao mal de Parkinson e mutações genéticas. O manuseio desse material pode estar associado à ocorrência desses males em agricultores.
Dados apontam ainda para o potencial mutagênico do herbicida, o que significa que ele pode causar alterações no nível celular dos seres humanos que podem ser passadas para gerações futuras ou resultar em câncer.
Em 2017, a Anvisa havia determinado a proibição da importação, comercialização e utilização do produto. Essa proibição começou a valer em 22 de setembro deste ano. Entretanto, o MAPA pediu que a Anvisa revisasse essas normas para permitir que os estoques já adquiridos pelos produtores rurais pudessem ser usados.
O ministério alegou que a proibição poderia causar prejuízos aos agricultores que já haviam adquirido o produto e que o seu não uso poderia afetar a safra deste ano.
Na sessão de quarta-feira da Anvisa, o colegiado formado por cinco diretores do órgão votou pela mudança nas normas que proibiram o uso do herbicida no país.
Agora, os estoques do produto poderão ser usados no Brasil respeitando um cronograma determinado pela agência, com base no tipo de produção e na região.
O uso do agrotóxico será permitido até o dia 31 de julho de 2021 para as lavouras de café. Depois desse prazo, será proibido.
A extensão do uso do produto vai na contramão do que outros países já fizeram recentemente em relação ao paraquate. Na União Europeia, por exemplo, o produto está banido desde 2007.
Retrocesso perigoso
Para o professor do programa de pós-graduação em agroecossistemas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), Leonardo Melgarejo, a decisão da UFRJ foi um retrocesso.
“Isso foi um retrocesso muito perigoso para o país porque indica que a Anvisa se submeteu à pressão do lobby do agronegócio. Desde 2017, quando foi determinada a proibição do uso da substância, o agronegócio aumentou as importações do paraquate, o que pode indiciar que, desde então, já havia uma intenção de não respeitar o banimento”, afirmou Melgarejo.
O professor diz ainda que os impactos da continuidade do uso do paraquate serão nocivos aos próprios agricultores e para as pessoas que mantêm contato com eles.
“Isso acaba expondo esses produtores e suas famílias a um risco desnecessário. Essa é uma substância extremamente tóxica e associada a uma série de doenças. Não há argumento econômico que justifique a continuidade do seu uso”, disse o professor. As informações são do jornal O Globo.