Domingo, 14 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2025
Nos últimos cinco anos, as mulheres têm se tornado clientes relevantes do varejo esportivo, antes dominado por homens. Elas não só estão comprando para consumo próprio, como também estão dispostas a gastar mais: nas cestas os produtos mais básicos e baratos (chamados de produtos de entrada) estão dando lugar a peças de maior valor, confortáveis e que proporcionam uso híbrido no esporte e no cotidiano, tanto em vestuário quanto em calçados.
A observação é da gerente executiva de projetos da Centauro, Natalia Matsukuma, que já teve passagens por outras empresas do setor como Nike e Puma. Na varejista esportiva desde 2019, ela presenciou essa mudança, causada, na sua avaliação, pela maior inserção das mulheres nas corridas de rua e em práticas de bem-estar como yoga e pilates.
Segundo dados da Centauro, a participação de novas clientes mulheres comparada a de novos clientes do gênero masculino aumentou 5 pontos porcentuais entre 2022 e 2025. O movimento também se refletiu em ganhos financeiros. O aumento do ticket médio das clientes mulheres entre 2022 e 2025 (até outubro) foi de 20,42%, na categoria de calçados, e de 17,62% na de vestuário. Leia a seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo.
– A sra. vem percebendo mudanças no comportamento ou no perfil do consumidor da Centauro desde 2019? “No geral, falando de categoria, percebemos um movimento bem forte (vindo) da corrida. Estamos vivendo o grande segundo boom da corrida. O primeiro aconteceu logo após a pandemia, mas ele vinha de um público mais profissional, mais velho e com muito desejo de alta performance. Aí, caminhamos para um lugar de mais prática do esporte, inclusive com mulheres e um público mais jovem sendo inseridos no universo da corrida. Essa nova geração está entrando na corrida com um olhar um pouco diferente, olhando para o bem-estar, buscando mais produtos de rodagem. Na parte de vestuário, tínhamos antes (um interesse por) produtos muito técnicos ou vestuário muito barato, e agora já vamos para um olhar de lifestyle, um produto híbrido, com o qual eu possa correr e também estar em um café da manhã. No passado, a Centauro já foi muito reconhecida por ser muito voltada ao homem, a venda era concentrada no masculino. De lá para cá, vemos um cenário diferente. Vemos uma mulher comprando para o seu marido, para o seu filho, mas também comprando para ela.”
– Essa ‘concentração no masculino’ tinha relação com as lojas estarem centradas em materiais para futebol ou o esporte, em si, era algo que era realmente do consumidor masculino? “Não. Vejo que (essa situação era vivida pela) indústria como um todo, e não uma particularidade da Centauro. No pré-pandemia, a indústria se voltava muito para o público masculino, era um olhar muito frio para a mulher. Não tinham construções, do ponto de vista de haver portfólio voltado para ela. Então, não necessariamente era uma questão da Centauro, era uma questão da indústria, e no pós-pandemia acordamos para esse movimento.”
– Mas, antes disso, já havia um movimento voltado para as roupas fitness, contando com a participação das mulheres ali? “(Com a) mulher, tanto para a indústria quanto para o varejo, sempre colhemos muitos resultados de preço de entrada. Ela sempre se posicionou dentro do nosso negócio nesse lugar. Depois da pandemia, começamos a ver essa consumidora também querendo um tênis de placa (de carbono), também querendo um vestuário de alta performance. Teve um movimento de a mulher realmente se enxergar nesse lugar. Antes, ela era a pessoa que acompanhava o marido na academia e que, portanto, não necessitava de um superinvestimento. Ela não se colocava em um lugar de competição entre gêneros, e sim ‘vou comprar o melhor para o meu marido, para o meu filho e, para mim, o básico está OK’. A corrida é um lugar de destaque porque se tornou, inclusive, o lugar fashion. Hoje nas corridas, vemos penteados, óculos, macaquinho, meia, lacinho, enfim. Em segundo, estão os esportes de bem-estar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.