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Por Redação O Sul | 16 de junho de 2018
O papa Francisco comparou, neste sábado (16), o aborto praticado em caso de má-formação do feto com uma eugenia “de colarinho branco” como a praticada pelos nazistas, denunciando que “para ter uma vida tranquila, elimina-se inocentes”. As informações são das agências de notícias AFP e Reuters.
O pontífice fez a comparação em um longo discurso a membros de uma confederação de associações familiares italianas.
“Ouvi dizer que está na moda, ou pelo menos é habitual, realizar exames durante os primeiros meses de gravidez para ver se a criança está bem ou nascerá com algo [algum problema] e que a primeira opção é se livrar [dela neste caso]”, declarou o papa no Vaticano a representantes de associações familiares.
“No século passado, todo mundo se escandalizou com o que os nazistas faziam para preservar a pureza da raça. Hoje, fazemos o mesmo com colarinho branco”, declarou o pontífice argentino.
“As crianças devem ser aceitas como elas vêm, como Deus as envia, mesmo se às vezes estejam doentes”, afirmou.
O papa também se indagou: “Por que não vemos anões nas ruas? Porque o protocolo de diversos médicos diz: ‘nascerá com uma anomalia, livre-se dele’”.
Acerca da questão familiar, o papa observou que “hoje falamos que família diversificadas, de diversos tipos de famílias. Sim, é verdade: família é uma única e mesma palavra, mas também nos referimos à família das estrelas, à família dos animais”.
“Mas família, segundo Deus, homem e mulher, só há uma”, resumiu Jorge Bergoglio.
“A família é uma bela aventura e hoje, me dói dizer isso, observamos que com frequência se pensa em fundar uma família, em casa, como se fosse uma loteria. Se der certo, bom, se não, apagamos tudo e começamos de novo”, criticou o papa.
Projeto de lei
A declaração do pontífice foi feita após a Câmara dos Deputados argentina aprovar, na quinta-feira (14), em votação apertada um projeto de lei que legaliza o aborto durante as primeiras 14 semanas de gravidez, uma proposta que dividiu profundamente o país.
O projeto, que agora irá ao Senado e incluirá o aborto no sistema público de saúde, foi aprovado na câmara com 129 votos favoráveis e 125 contrários após um debate que durou a noite toda.
“Estamos lidando com uma questão de saúde pública que não pode ser abordada com espetáculos, nem moralismos, muito menos com a religião”, disse a congressista de oposição Mayra Mendoza, uma das principais forças por trás do projeto, em um discurso. “Este também é um assunto de justiça social”.
A oposição, assim como os aliados do presidente Maurício Macri, estava dividida na questão. Macri encorajou os membros de seu partido a votarem como preferissem, embora ele se opusesse à proposta.
A Argentina, como a maioria dos países na América Latina, atualmente permite o aborto em casos específicos, incluindo casos de estupro e de ameaças à vida da mãe. Grupos de direitos já criticaram a necessidade da permissão de um juiz, que normalmente resulta em longos atrasos ou negação do procedimento.
O projeto de lei enfatiza o perigo que as mulheres argentinas sofrem ao buscar abortos clandestinos, principalmente as mais pobres.