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Por Redação O Sul | 12 de abril de 2018
A ambição da Alemanha é maior do que “apenas” faturar o pentacampeonato na Rússia em junho e se igualar ao Brasil no número de títulos mundiais. No mesmo mês, a federação alemã de futebol (DFB) dará início a um projeto que promete ser por muito tempo o ápice da tecnologia e da ciência aplicadas ao futebol. É a Academia DFB, a nova sede e centro de treinamentos e estudos da federação em Frankfurt, que já vem sendo chamada de “Vale do Silício do Futebol”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
No país, o projeto é visto como um caminho natural para que a Alemanha se consolide como a maior potência do futebol mundial. E a aposta é na inteligência. Serão investidos mais de 110 milhões de euros (R$ 450 milhões) para a construção de um complexo tecnológico e esportivo de mais de 54 mil m² composto por campos, academia, mas também por laboratórios e salas de aula.
A estrutura será construída com patrocínio de uma empresa de software para gestão de empresas no terreno de um antigo hipódromo da cidade alemã. Como contrapartida para a construção da Academia, nove hectares de floresta nativa deverão ficar intactos e a federação construirá um parque público, batizado de “Parque Cidadão”, como parte integrante do projeto.
O conceito central da Academia DFB é o de “big data”, termo da informática utilizado para se referir ao armazenamento e manipulação de um grande conjunto de dados. “A Academia estará em rede”, informa a federação. “O projeto reúne especialistas de diferentes áreas, como psicologia, medicina, esporte e comunicação, para trabalhar estratégias de otimização de desempenho.”
O objetivo é o de ser o líder na análise digital do esporte, algo considerado como a nova etapa que qualquer comissão técnica terá de mergulhar. Na avaliação dos alemães, estatísticas como posse de bola e a quilometragem percorrida por um jogador em campo são dados “ultrapassados”. “O que se quer saber é a eficiência de um jogador. E não quanto tempo ele fica com a bola no pé”, explicou um representante da DFB.
Um exemplo amplamente usado pelos protagonistas do novo sistema: em 2014, o Brasil de Scolari foi o time que ficou com o maior percentual de tempo com a bola no pé. Mas foram os alemães que fizeram sete gols.
Pela Europa, o projeto gera preocupação dos demais países, alarmados com o salto que o centro poderia dar aos alemães e os distanciando ainda mais do restante do continente. Ao jornal O Estado de S. Paulo, membros da Uefa admitiram que o plano é “revolucionário” e poderia abrir fronteiras inéditas na forma pela qual o futebol é administrado em campo.
Para especialistas da entidade europeia, a mudança pode ser da mesma dimensão que a revolução que foi criada quando, nos anos 50, seleções passaram a ter preparadores físicos profissionais.
Um dos objetivos do trabalho integrando diversas frentes é, para a federação, uma forma de tentar resolver qualquer problema dentro de campo. Um jogador com baixo aproveitamento em finalizações, por exemplo, poderá ter todos seus chutes a gol monitorados por um sistema que entregará relatórios com informações sobre força do chute, curvatura da trajetória da bola e posição do pé do atleta no momento do impacto. Com isso tudo em posse de treinadores, a aplicação vai para o gramado e, para a federação, o caminho para a melhora se torna natural.
“A estrutura está sendo pensada para garantir que nossos melhores jogadores e nossas melhores mentes encontrem as melhores condições para trabalho”, afirma o presidente da entidade, Reinhard Grindel. “O resultado será o destaque no futuro, e muitos títulos para a Alemanha. Isso também via impulsionar o futuro, já que, quando um time joga com sucesso, as crianças e jovens passam a emular seus ídolos. Quanto mais sucesso na ponta, mais forte o influxo na base.”
Os sinais de que a Alemanha busca o topo do mundo no futebol não são de agora. Mesmo antes de 2014, quando faturou o Mundial no Brasil, a seleção já fazia uso de tecnologias para tentar aprimorar seu desempenho. Na Copa, o técnico Joachim Löw utilizava um software que calculava estatísticas através de vídeos. Uma das aplicações, na preparação para o torneio, era na velocidade – em campo, o fatídico 7 a 1 sobre os anfitriões foi uma aplicação direta dos resultados de um amplo estudo de como rodar a bola de modo a fazer o adversário abrir grandes buracos no setor defensivo.
O treinador da seleção alemã acompanha de perto o desenvolvimento do projeto da Academia DFB. Em carta aos moradores de Frankfurt, ele disse ver o projeto como uma forma de garantir o futuro do futebol alemão. “A Academia será onde desenvolveremos jovens atletas e ideias para nosso futebol. O design, seus campos e áreas verdes dão uma ideia do que pode acontecer lá.”