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Por Redação O Sul | 13 de fevereiro de 2021
A cada 14 ou 15 meses, em média, um novo governo é alçado ao poder na Itália — padrão que se repete desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com apenas uma exceção. O de Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), será o 67º da lista, depois que as negociações destinadas a reeditar a coalizão liderada por Giuseppe Conte desmoronaram, após semanas de disputas entre os partidos no poder. O próprio Conte, que assumiu em junho de 2018, comandou duas coalizões: a primeira durou 14 meses e a segunda não passou dos 16.
Antes de Draghi, 29 políticos italianos, todos homens, ocuparam o cargo de primeiro-ministro — só nos últimos 15 anos, foram sete e 11 diferentes coalizões de governo. Já a Alemanha teve nove chanceleres (o equivalente ao cargo de premier) e 25 governos nas mais de sete décadas do pós-guerra.
O empresário bilionário Silvio Berlusconi foi o primeiro-ministro italiano que mais tempo ficou no cargo. Seu segundo mandato, entre 2001 e 2005, durou um total de 3 anos, 10 meses e 12 dias. Apenas o fascista Benito Mussolini (1883-1945) permaneceu no cargo por mais tempo que isso (20 anos e nove meses) desde a formação do Estado italiano, em 1861.
Já o primeiro governo de Amintore Fanfani será lembrado como o mais curto da História italiana contemporânea: apenas 21 dias, entre 18 de janeiro e 8 de fevereiro de 1954. Ele, porém, não é exceção. Dos 66 governos que a Itália teve até agora, 12 duraram entre três e seis meses e dois, menos de três meses.
O mandato extremamente curto se comparado aos demais países ocidentais não é resultado de uma conjuntura nacional, mas da estrutura política sobre a qual o país foi construído: um sistema parlamentarista multipartidário proporcional, afirma Paolo de Renzio, professor adjunto do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio.
“No sistema parlamentarista, o primeiro-ministro não é eleito de forma direta, ele é uma expressão da coalizão no poder, o que significa que o Parlamento detém o monopólio de decisão sobre manter ou não o premier no cargo”, explica Renzio. Além disso, um sistema eleitoral multipartidário proporcional faz com que partidos com pouca representatividade consigam derrubar um governo, como o fez recentemente o Itália Viva do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi.
O Congresso italiano tem atualmente 630 deputados e 315 senadores — número que diminuirá em um terço quando houver novas eleições, depois que um referendo no ano passado aprovou a redução das cadeiras parlamentares. São os deputados e senadores que precisam garantir maioria para que o primeiro-ministro, formalmente conhecido como presidente do Conselho de Ministros, governe. Isso acontece por meio de um voto de confiança dado a ele pelo Parlamento, depois de negociar a nomeação dos membros de seu Gabinete com os partidos majoritários nas duas Casas.
O último premier italiano, o jurista sem partido Giuseppe Conte, comandou entre 2018 e agosto de 2019 um governo formado pelo antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) e a Liga, de extrema direita. A saída da Liga, numa manobra frustrada para provocar eleições antecipadas, levou à formação de uma segunda coalizão de Conte, com orientação de centro-esquerda, formada pelo M5S e o Partido Democrático (PD).
Conte renunciou em 26 de janeiro depois de perder a maioria parlamentar com a saída de sua coalizão do pequeno partido Itália Viva, do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi. Desde então, o presidente Mattarella tentava evitar eleições antecipadas. Depois de uma tentativa fracassada de reeditar a última coalizão de Conte, ele convocou Draghi para formar um governo “de união nacional”, suprapartidário, para lidar com a pandemia e recessão econômica que ela provocou.
“A cultura política italiana é bastante volúvel”, afirma Paolo de Renzio. “Os partidos mudam de posição com frequência, dificultando a manutenção da estabilidade no apoio aos governos”, diz.
Ainda segundo ele, o “avanço recente do populismo na Itália, especialmente o de direita”, também contribuiu para essa instabilidade, já que “ao polarizar o sistema político, dificulta a construção de uma maioria que possa governar de maneira estável”.