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Por Redação O Sul | 13 de agosto de 2020
A prefeitura de Shenzhen, cidade da China próxima de Hong Kong, anunciou nessa quinta-feira (13) que detectou traços do novo coronavírus na superfície de pacote de frango importado do Brasil, o maior produtor mundial de frango.
De acordo com o número de registro informado no comunicado da prefeitura de Shenzhen, o lote pertence ao frigorífico Aurora, de Santa Catarina. Por meio de sua assessoria, o frigorífico informou que a mercadoria leva 40 dias para chegar à China.
Infectologistas consultados para comentar o caso afirmaram que é pouco provável que o pacote do frango tenha sido contaminado no Brasil.
“Não existe comprovação científica que, mesmo estando congelado, o vírus poderia sobreviver na superfície tanto tempo [40 dias]”, explica o infectologista Marcelo Otsuba.
“Por isso, é muito pouco provável que o produto tenha sido contaminado no Brasil. O mais provável é que a contaminação tenha ocorrido no final, já na China, depois de ser manipulado por alguém contaminado”, afirma Otsuba.
Caso tenha conseguido viajar na superfície por tanto tempo, a infectologista do Hospital Emílio Ribas, Ana Freitas Ribeiro, aponta que o pacote pode ter sido contaminado em qualquer momento da viagem.
“Pode ter sido contaminado no Brasil, se alguém infectado manipulou o pacote sem luvas, sem máscara ou tenha espirrado nele, assim como pode ter sido contaminado quando chegou na China”, diz Ribeiro.
A microbiologista Natália Pasternak explica que, a contaminação do pacote pode ter acontecido em qualquer momento no transporte, inclusive no manuseio da chegada.
“O vírus pode permanecer viável congelado a -20°C, provavelmente por tempo prolongado. Se for a -4°C, temperatura de geladeira, deve ser só alguns dias. E precisa avaliar as condições do transporte também. Então para saber se o vírus está viável ou não, temos que testar”, disse.
Os infectologistas também ressaltam o modo como foi realizada a inspeção e o teste do pacote.
“Precisamos saber como foi feito o teste que detectou a contaminação. Alguns testes são muito sensíveis. Se a sala estiver contaminada, poderá contaminar o exame”, esclarece Ribeiro.
Contágio com alimentos
Otsuba ressalta que não há evidência de que animais transmitem o coronavírus às pessoas.”Com notícias como essa, precisamos lembrar: animais não transmitem o vírus”, disse.
Nessa quinta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) comentou que a notícia não deve causar pânico na população.
“Não devemos criar a impressão de que há problema com nossa cadeia alimentar”, disse o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan.
Segundo a OMS, os coronavírus não podem se multiplicar em alimentos. Por isso, mesmo os alimentos importados de países com grandes surtos, como o Brasil, não oferecem risco de transmissão do vírus.
“Como os alimentos não foram associados na transmissão da Covid-19, os alimentos importados devem ser submetidos aos mesmos controles de importação de antes da pandemia”, informa a OMS, complementando que “o teste de alimentos ou superfícies de alimentos para este vírus não é recomendado.”
Segundo uma publicação de maio da OMS, não há evidência científica que as pessoas possam se contaminar com a Covid-19 por meio de alimentos ou embalagens de alimentos, já que a contaminação não é oral.
“Covid-19 é uma doença respiratória e a via de transmissão é através do contato pessoa a pessoa e pelo contato direto com gotículas respiratórias geradas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra”, esclarece um documento da OMS publicado no site da organização.