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Brasil A tentativa de feminicídio expõe os riscos por trás de um relacionamento virtual

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Segundo especialistas, o primeiro encontro presencial deve ser, preferencialmente, em um local público, com grande circulação de pessoas. (Foto: Reprodução)

O caso da empresária Elaine Caparróz, espancada por quatro horas pelo advogado Vinícius Batista Serra, de 27 anos, ocorrida em fevereiro, gerou enorme comoção. Os dois se falavam por redes sociais e a tentativa de feminicídio — como o caso está sendo investigando — ocorreu na primeira vez em que se encontraram pessoalmente. A situação chama a atenção mais uma vez para a violência contra a mulher e os riscos por trás de uma relação virtual.

A tentativa de feminicídio — quando uma mulher é morta devido ao ódio ao gênero feminino — sofrida por Elaine se soma a uma triste realidade no País.
Para a juíza de Direito do Rio de Janeiro Adriana Mello, está claro, diante das características do caso, que se trata de um crime de feminicídio. Ela chama a atenção para o tipo de agressão, com golpes desferidos principalmente no rosto da vítima. “É no rosto onde a mulher tem sua representação maior. Agredi-la nesta parte demonstra um desprezo à sua condição de mulher e uma misoginia”, diz Mello. “Isso é uma característica muito importante para detectar crime de desprezo à mulher por sua condição de gênero. Vemos ainda áreas como genitais e mamárias como alvo das agressões, para que, assim, a mulher não seja mais ‘aceita’ por nenhum homem. O agressor vai diretamente nessa região do corpo que representa a condição feminina, passando esse sentimento de propriedade.”

A juíza pontua ainda que havia uma relação anterior entre os dois, que se comunicavam pela internet, que poderia ser considerada afetiva, mesmo que não presencial. Apesar disso, pontua que há riscos por trás deste tipo de relação. “Um relacionamento à distância tem essas dificuldades, como a falta de convivência, de conhecer a pessoa a fundo. Com isso, fica difícil dimensionar riscos que pode estar correndo ao lidar com ela. Nas redes, há uma ‘maquiagem’, que pode iludir, e, quando convive, descobre que a pessoa representava um risco iminente.”

Especialistas apontam que o ideal é utilizar alguns recursos para se precaver de situações perigosas ao se relacionar com alguém virtualmente, mas, que, mesmo assim, sempre haverá um risco. Uma das orientações é procurar sites e aplicativos com credibilidade e pesquisar o histórico e perfil da pessoa.

Surto não é justificativa

Especialistas ressaltam um outro ponto no caso. Vinicius Batista Serrade alega que teria bebido um vinho e acordado em surto, antes de agredir Eliane. Mello pontua que isto não é “desculpa” para as agressões e que muitos agressores a utilizam para justificar a violência e tentar se livrar da responsabilidade do ato. Essa estratégia, segundo ela, tem sido rechaçada nas sentenças.

“Ele [Vinicius] pode até argumentar isso. Mas, em um primeiro momento, não é justificativa, e, sim, uma forma de desqualificar a gravidade dos fatos de tamanha crueldade. Isso não é doença, é crime.”

O que chamou a atenção da advogada e professora da PUC-SP Elaini Silva foi a utilização de aplicativos e redes resultando em fins de agressão, lembrando de casos em que as plataformas são utilizadas como “emboscadas” para assaltos e estupros. Casos como esses, diz, demonstram a dificuldade de manter algum tipo de controle sobre essas ferramentas.

Apesar disso, ela pontua que não é o caso de não usar mais as redes ou aplicativos como forma de conhecer pessoas, o que restringiria a liberdade e a possibilidade de conhecer pessoas que não compartilham desse tipo de comportamento violento.

“Essa realidade só muda quando mudar a cultura na sociedade, quando houver uma forma de comunicação e relação mais respeitosa”, diz Silva. “O fato de o agressor ser investigado é importante para mostrar que esse tipo de atitude não é aceitável. Mas a Elaine já foi agredida e terá todos os prejuízos relativos a isso. Focar só na punição não é suficiente para evitar que outras pessoas passem por isso.”

Orientações gerais 

Segundo especialistas, o primeiro encontro presencial deve ser, preferencialmente, em um local público, com grande circulação de pessoas. Outra instrução seria ir ao encontro com alguma companhia, outros amigos, por exemplo.

É indicado também que se faça uma “investigação”, dentro do possível, de quem é a pessoa com quem está se relacionando virtualmente. Procurar quem é aquela pessoa, inclusive, além das redes, pode evitar uma possível camuflagem de comportamentos.

Por fim, informar familiares ou amigos sobre o local e horário do encontro é fundamental, além de manter contato durante todo o tempo.

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https://www.osul.com.br/a-tentativa-de-feminicidio-expoe-os-riscos-por-tras-de-um-relacionamento-virtual/ A tentativa de feminicídio expõe os riscos por trás de um relacionamento virtual 2019-04-23
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