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Por Redação O Sul | 25 de outubro de 2021
A Justiça da Alemanha condenou a dez anos de prisão uma cidadã do país que integrou no Iraque o grupo extremista Estado Islâmico. Conforme a sentença, pronunciada nesta segunda-feira (25), Jennifer Wenisch, 30 anos, cometeu diversos crimes de guerra e assassinatos, dentre os quais o fato de contribuir para que uma menina morresse de sede.
O processo começou em abril de 2019 e é um dos primeiros no mundo para lidar com os crimes de guerra cometidos contra esse grupo populacional. Jennifer é de Lohne, na Região Noroeste da Alemanha. Ela viajou ao Iraque para se reunir com “os irmãos”, argumentou em depoimento à Promotoria.
Durante vários meses, ela integrou a polícia de Fallujah e Mossul, onde participava da patrulha armada. Essa força de segurança controlava, sobretudo, o respeito às regras de vestimentas e comportamentos estabelecidas pelos extremistas.
De acordo com a acusação, em 2015 a alemã e seu então marido, Taha Al-Jumailly, “compraram” uma menina de 5 anos e sua mãe (ambas da minoria curda yazidi, perseguida por extremistas do Iraque e da Síria) que eram prisioneiras do Estado Islâmico. Objetivo: explorar as duas como escravas.
Após vários abusos, a menina foi castigada pelo marido de Jennifer, por ter urinado em um colchão. Na sequência, foi amarrada a uma janela do lado de fora da casa, a uma temperatura de quase 50°C. A menina morreu de desidratação.
A mãe da criança ainda foi obrigada a permanecer trabalhando para o casal. A versão foi contestada pela mãe da criança, que hoje vive em um local não revelado da Alemanha. Testemunha-chave, a sobrevivente foi ouvida durante os julgamentos dos ex-cônjuges.
Os advogados, assim como os de Taha Al-Jumailly, sugeriram que a menina poderia ter sobrevivido se tivesse sido levada para um hospital em Fallujah. Acusada de ter permitido a ação do companheiro sem intervir, Jennifer Wenisch declarou na audiência que tinha medo de ser “empurrada ou trancada”.
Prisão e extradição
“Eu me tornei um exemplo de tudo que aconteceu sob o Estado Islâmico. É difícil imaginar que isso seja possível em um Estado de direito”, desculpou-se Jennifer, como forma de defesa, durante uma das últimas audiências, relatou o jornal “Süddeutsche Zeitung”.
A alemã foi detida por forças de segurança da Turquia em janeiro de 2016, na cidade de Ancara, quando tentava entrar com a filha de 2 anos em territórios ainda controlados pelo Estado Islâmico na Síria. O passo seguinte foi a extradição para a Alemanha e a transferência para um centro de detenção, em junho de 2018.
Quando estava em prisão domiciliar antes da extradição, ela chegou a tentar fugir, mas acabou revelando detalhes de sua vida no Iraque a um motorista que, na realidade, era informante do FBI (a polícia federal norte-americana). Ele gravou a fala de Jennifer e o áudio foi decisivo para a acusação.