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Edson Bündchen Autocentrismo: o perigo da negação do outro 

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Numa passagem memorável do livro “A Quinta Disciplina”, o consagrado autor Peter Senge, descreve a cena da terra vista por um astronauta em órbita. Lá do espaço, nosso planeta azul parece extremamente frágil diante da vastidão assombrosa do universo. As fronteiras não são percebidas, revelando o quão absurdos ou inúteis são os intermináveis conflitos entre os homens, e como  esse distanciamento do olhar permite melhor nos posicionar, enquanto passageiros fugazes de nossa existência terrena.

Mesmo capazes de reconhecermos a nossa insensatez, marchamos, enquanto espécie, resolutos, cometendo os erros de sempre, como se cerceados por antolhos que nos suprimem a visão. Esse apego ao pensamento linear, em contraposição a uma perspectiva mais sistêmica, impede que muitos abracem o modelo complexo, que Edgar Morin tão bem defendeu em sua vasta obra. Para Morin, um entendimento mais claro do mundo, e que nos aproxime da realidade, se ampara na ordem, exatidão e clareza… No conhecimento. Nessa interpretação, existe diálogo entre razão e emoção, o real e o imaginário, a ciência e a arte, e um profundo respeito pelo compartilhar de saberes, antes integrados do que independentes. Não se nega a aleatoriedade, a incerteza, a contradição e a multiplicidade, mas primeiro às incorpora, aglutina e inclui.

No campo contrário, a visão autocentrada rejeita o pensamento aberto, abrangente e flexível, e enxerga no outro um adversário, alguém a ser eliminado, banido e proscrito, num paradigma de competição predatória. Para que eu exista, alguém precisa ceder o seu lugar. Essa concepção, claramente, empobrece e compromete uma possibilidade real, porém mais difícil, de se construírem consensos que abarquem o “por que não?”, em vez do limitado “ou eu ou ele”! Por certo, o alcance e as consequências da ausência de um pensamento sistêmico afetam não apenas o terreno mais largo de governos e organizações. Uma mente estreita prejudica diretamente o indivíduo, limitando o seu campo de visão a fórmulas reducionistas, muitas delas vencidas no tempo, e até intelectualmente perigosas, a julgar pelas insinuações fascistas que vez por outra compõem o debate.

Nesse aspecto, compreender e bem situar a necessidade de ampliarmos o pensamento sistêmico, pode refutar visões incompletas da realidade, mas não somente isso. Em tempos de extrema polarização e intolerância, como esse que atravessamos, essa reflexão se impõe. É preciso uma melhor compreensão das vantagens de se abrir mão de uma cultura imediatista em favor de uma perspectiva mais ampla, com um espaço digno para os opostos e para o dissenso. Ali, nesse meio, construído pluralmente,  permitem-se novas abordagens e inéditas possibilidades, inseridas num propósito de maior alcance, abertura e compreensão. Descortina-se, desse modo, um horizonte mais permeável à novidade, sensível e tolerante ao próximo e a novos conhecimentos,  também curioso e confiante  em relação ao futuro.

O pensamento sistêmico, assim, além de reforçar e sintonizar a nossa condição humana e fraterna, é também pragmático, ao permitir que o perigo do autocentrismo seja bem delineado, evitando-se a negação do outro com o risco da nossa própria negação. Sem a generosidade empática que uma compreensão mais holística nos permite, estaremos condenados aos mesmos erros do passado, retardando os imensos benefícios que a superação da ideia excludente do “nós contra eles” pode sugerir. Sem dúvida, ainda há tempo para que esse debate seja recuperado em toda a sua plenitude, e que se converta em prática efetiva, a poderosa intenção de abarcar o contrário no construto de uma dialética mais ampla e promissora. Em tempos de pós-pandemia, isso pode não ser apenas desejável, mas extremamente necessário.

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https://www.osul.com.br/autocentrismo-o-perigo-da-negacao-do-outro/ Autocentrismo: o perigo da negação do outro  2020-08-27
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