Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2021
A brasileira Débora A., de 23 anos, acusa a polícia francesa de ser responsável por seu parto prematuro aos 4 meses e meio de gravidez e pela morte da filha, em dezembro de 2020. Ela entrou na Justiça, o corpo do bebê foi autopsiado e foi enterrado nesta quinta-feira (21) em Garges-Lès-Gonesse, na periferia de Paris, onde mora.
Em entrevista, Débora não quer revelar seu sobrenome. Ela mora na França desde os 8 anos e nunca mais voltou ao Brasil, mas não tem nacionalidade francesa. Ela, junto com o irmão mais velho, foi morar com a mãe, que já residia na periferia parisiense. O pai, com quem ela conversa pelo telefone, mora no Espírito Santo. Atualmente, ela está desempregada, mas quer fazer um curso para virar cabeleireira.
A jovem estava grávida pela primeira vez do namorado. A gravidez não foi planejada, mas era desejada. Ela relatou que estava preparando tudo para o nascimento, previsto para maio, e só soube o sexo do bebê “depois do parto”.
Débora diz ter sido jogada violentamente contra uma parede “três vezes” por uma policial que a abordou por não respeitar o uso de máscara. A agressão aconteceu em 10 de dezembro do ano passado em um shopping de Garges-Lès-Gonesse. Onze dias depois, ela perdeu o bebê.
Abordagem policial
O caso de Débora se soma a uma longa lista de denúncias de violência policial na França e interessou grande parte da imprensa francesa. A brasileira estava com Céline H., que ela chama de prima e na casa de quem ela mora, e uma amiga no centro comercial Arc-en-Ciel. Quando estavam saindo do local, um policial pediu “educadamente” que colocassem as máscaras. Mas uma outra policial resolveu multá-las porque “não suportava mais ver os jovens desrespeitando o uso de máscara”. Depois, afirmando que as jovens a teriam insultado, resolveu levar Débora e a prima para a delegacia. “A minha prima tinha me xingado porque eu estava andando na frente e acho que foi isso que a policial ouviu”, pensa a brasileira.
Céline H., foi jogada no chão para ser algemada. Débora tentou defendê-la, mas foi empurrada. Imagens de vídeo mostram a intervenção da polícia. “Não entendia nada! Entrei em pânico porque a minha prima tem uma cicatriz na cabeça, fiquei com medo, tentei intervir, pedir a polícia para tomar cuidado, mas não me deixaram. A policial que tinha nos multado, pegou no meu braço e me jogou três vezes contra a parede. Gritei que estava grávida, mas ela não parou”.
A brasileira conta ainda que a mesma policial a sacudiu, exigindo desculpas. “Pedir desculpas por quê? Eu não fiz nada!”. Na delegacia, foi bem tratada e soube que não passaria a noite detida porque estava grávida. Mas a prima só foi liberada no dia seguinte. As duas foram indiciadas por ultraje e convocadas para uma audiência no dia 6 de julho de 2021. “Enquanto eu esperava para ser liberada, um policial me disse que a gente não tinha cara de bandido, que a gente parecia legal e justificou o ocorrido como uma ‘rivalidade entre mulheres’.”
Parto prematuro
Na mesma noite, Débora começou a sentir dores nas costas e na barriga. “Não compreendi na hora o que estava acontecendo”. No dia seguinte, consultou um clínico geral e uma ginecologista, que constatou “um sangramento”, mas a mandou de volta para casa. Na noite seguinte, as dores pioraram muito e ela foi hospitalizada no serviço de emergência de uma maternidade. O colo do útero estava aberto e a bolsa tinha descido para o canal vaginal.
“Eu tinha muita esperança porque o coração da minha filha batia, mesmo se os médicos dissessem que não tinha muitas chances, que era muito complicado”. A bolsa estourou no dia 19 de dezembro. “Minha filha ainda estava viva. O pé dela saiu. Cheguei a ver o pé dela mexendo”. No dia 21 de dezembro, o bebê nasceu morto.
A brasileira pôde ficar um momento com a filha, “para se despedir”. O bebê foi registrado e recebeu o nome de Dijamila. Só depois que saiu do hospital, Débora foi à delegacia dar queixa contra a violência policial. Ela concedeu uma primeira entrevista sobre sua agressão ao jornalista independente Hahin-Hazamy, e o advogado Vincent Brengarth ficou sabendo do caso e passou a defendê-la.