Sexta-feira, 27 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de agosto de 2015
Pesquisadores brasileiros criaram um medicamento à base de veneno de cobra cascavel que age como bloqueador neuromuscular, efeito semelhante ao da toxina botulínica (botox).
Chamada crotoxina, a substância está sendo testada no tratamento do estrabismo, distúrbio que afeta o paralelismo entre os dois olhos.
Hoje, uma opção de tratamento são aplicações de toxina botulínica, que causa paralisia transitória do músculo. O relaxamento muscular ajuda a restaurar o equilíbrio nos músculos que controlam o movimento dos olhos.
Segundo a farmacêutica Ana Elisa Ferreira, foram feitos testes laboratoriais e com coelhos. Agora, a equipe busca mais parcerias para realizar outros testes ainda na fase experimental (como de toxicidade). O investimento estimado é de 1 milhão de reais. Só depois vão acontecer os testes em humanos.
Ana diz que, nos primeiros testes com animais, a neurotoxina apresentou vantagens sobre o botox. “Os efeitos parecem ser mais duradouros, tornando as aplicações menos frequentes.”
Para o oftalmologista Geraldo de Barros Ribeiro, a crotoxina pode ser uma opção quando o paciente não responde mais às aplicações da toxina botulínica. “O botox causa uma reação imunológica [formação de anticorpos] e, após algumas aplicações, deixa de fazer o efeito desejado. Teoricamente, a crotoxina é menos imunogênica e deverá estimular menos a formação de anticorpos.”
A crotoxina é a principal toxina do veneno da cascavel sul-americana. Já a toxina botulínica é obtida de uma bactéria (Clostridium botulinum).
Novos testes.
Segundo Ribeiro, o grupo já tem aprovação do comitê nacional de ética para testar a crotoxina também nas áreas de dermatologia e neurologia, nas quais a toxina botulínica é amplamente usada.
Um dos tratamentos é para as distonias musculares, distúrbio caracterizado por espasmos musculares involuntários. Quando aplicada em pequenas doses, a toxina bloqueia a liberação de acetilcolina (neurotransmissor responsável por levar as mensagens elétricas do cérebro aos músculos) e, como resultado, o músculo não recebe a mensagem para contrair.