Segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de dezembro de 2021
A engenheira Mirella Ostan, de 35 anos, mora na França e veio ao Brasil passar as festas de fim de ano com sua família em Curitiba. Com um filho de 3 anos e uma filha de 8 meses, ela e o marido tentaram alugar um carro para o período de 16 de dezembro a 6 de janeiro. Pesquisaram em várias empresas, mas não encontraram nenhum modelo básico disponível. As únicas alternativas eram retirar um veículo em Ponta Grossa, que fica a mais de 100 quilômetros da capital paranaense, ou pagar sete vezes mais por um modelo mais caro.
“A média da diária de um carro barato era R$ 100. Os outros, de categorias premium, eram em torno de R$ 700. Para 20 dias, daria uns R$ 14 mil. Com esse valor, eu compro um usado. Calculamos quanto seria andar de aplicativo, mas com as crianças é melhor o carro”, conta Mirella.
A família acabou conseguindo um veículo emprestado, mas muita gente tem ficado sem saída. Faltam veículos nos pátios das locadoras.
Pesquisa realizada pelo jornal O Globo na última sexta-feira nos sites das três maiores locadoras de veículos para o aluguel de um veículo de 27 de dezembro a 7 de janeiro constatou que os modelos básicos mais baratos estão quase esgotados nas filiais em aeroportos de cidades turísticas como Fortaleza, Curitiba, Recife, Salvador, Maceió, São Luís, Natal, Florianópolis, Porto Alegre e Rio de Janeiro (Santos Dumont e Galeão).
Em seis dos dez destinos pesquisados não há carros populares disponíveis, todos já estão reservados.
Mirella, que trabalha em uma montadora na França, sabe que o problema vai além da alta demanda. Como confirmam especialistas do setor automotivo, as locadoras têm enfrentado dificuldades para renovar a frota desde o início da pandemia, que afetou o suprimento global de semicondutores. A falta dos componentes reduziu a produção de automóveis no mundo, inclusive no Brasil, e as locadoras são os principais compradores.
O diretor de Operações da consultoria Gouvêa Ecosystem, Eduardo Yamashita, lembra que o modelo de negócios de locação de carros foi profundamente testado na pandemia, também por outros motivos:
“Esse segmento sofreu queda enorme no seu faturamento porque as pessoas não estavam na rua, o turismo caiu, e eles perderam contratos corporativos de empresas que alugavam frotas, de onde vinha boa parte da receita.”
Outra fatia relevante da receita das locadoras, a venda de seminovos, também foi abalada, diz Yamashita. Afinal, sem poder renovar a frota na proporção desejada, não era possível se desfazer dos seminovos.
No ano passado, a frota das locadoras ultrapassou a marca de 1 milhão, segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Abla). Este ano, até 31 de julho, as locadoras tinham comprado 181 mil automóveis e comerciais leves, conforme levantamento do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), em parceria com a Abla. A projeção para o total a ser atingido este ano é de 350 mil a 380 mil veículos.
A Abla estima que as locadoras deixarão de comprar entre 420 mil e 450 mil veículos este ano, devido à dificuldade de produção das montadoras.
Além do limite à renovação da frota, o apagão nas locadoras neste fim de ano é reflexo da retomada do turismo com a vacinação. Famílias que adiaram férias na pandemia e ainda não se sentem seguras para viajar para o exterior ou pelo Brasil em aviões e ônibus cheios recorrem aos carros alugados, principalmente para curtas e médias distâncias. A nova variante Ômicron é mais um fator de preocupação.
O resultado é a falta de carros para reserva. Na Localiza, por exemplo, não há opção de carros básicos em nenhuma das cidades pesquisadas. Nos dois aeroportos do Rio, faltavam até veículos intermediários e alguns modelos de minivans e furgões.
Em São Luís, onde é comum o aluguel de carros mais potentes para encarar os quase 300 quilômetros até Lençóis Maranhenses, o modelos SUV e 4×4 também já acabaram. Em Curitiba, nenhuma das lojas tinha carros disponíveis.
A Localiza reconhece que a indústria automotiva está passando por uma crise global, que impactou “severamente a produção de carros e toda a cadeia de valor dependente dela, inclusive a de locação de veículos”. Em nota, a empresa diz que as montadoras estão atendendo a seus pedidos, ainda que em prazos mais longos que os previstos.
O site da Unidas (que está em processo de aquisição pela Localiza) informa que não há modelos em nenhuma das cidades analisadas, exceto SUVs em Natal e Curitiba, além de algumas opções no Galeão. Procurada, a empresa não retornou o contato.
Na Movida, até sexta-feira, havia carros básicos disponíveis em Curitiba, Rio (Galeão) e São Luís. Em Fortaleza, só vans e picapes. O diretor da locadora, Jamyl Jarrus, explica que nesta época do ano é comum haver remanejamento entre as unidades, conforme a demanda:
“Podemos ver uma demanda mais forte em tempo real e ceder carro para esse local. Às vezes, leva até de São Paulo”, afirma Jarrus. As informações são do jornal O Globo.