Segunda-feira, 07 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2020
A caderneta de poupança teve captação positiva em R$ 13,2 bilhões em setembro, de acordo com dados do Banco Central (BC). É a maior cifra para um mês de setembro desde o início da série histórica, em 1995. E esse movimento vem se repetindo desde o início da pandemia: de março para cá, todos os meses registraram resultados positivos.
A simplicidade da caderneta sempre foi destacada como sua maior virtude, mas há outras razões que ajudam a explicar esse movimento. Em meio às incertezas trazidas pela crise, que provocou turbulência no mercado, muitos investidores viram na poupança uma espécie de refúgio.
“Várias pessoas que sofreram baques nos seus investimentos acabaram migrando para a poupança”, diz Maria Eduarda Strucchi, head comercial da Ágora Investimentos.
Note que a fala da especialista não trata da poupança como investimento – e isso não foi por acaso. O analista financeiro Victor Savioli, ex-JP Morgan, explica que a caderneta foi feita para poupar, isto é, não gastar – o que é diferente de investir.
“A poupança não é um investimento, é apenas uma gaveta para deixar o dinheiro. Esse papel ela cumpre. Mas, para investir e fazer esse dinheiro se multiplicar, ela não funciona”, diz o analista. “A poupança nem foi criada para isso. Como no passado os juros eram altos e ela tinha um retorno melhor, ficou esse entendimento de que poupança é investimento, mas ele é errado.”
CDB, LCA e LCI
Pela regra de remuneração válida para os depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012, a poupança paga 70% do rendimento da taxa Selic, mais a variação da TR. Como a Selic está em 2% ao ano e a TR está zerada, isso corresponde a 1,4% ao ano.
“Como o boletim Focus projeta uma inflação de 2,12% neste ano, isso significa que o rendimento real da poupança é negativo, ou seja, o dinheiro aplicado perde poder de compra no longo prazo. Não vale a pena”, explica Strucchi.
Para onde correr sem perder dinheiro, então? Considerando que o cliente típico da poupança tem perfil de risco bastante conservador, as opções mais indicadas na renda fixa são o CDB, a LCI e a LCA.
“Se compararmos a poupança com uma LCI que paga 100% do CDI, em um ano o rendimento desta última foi de 3,43%, enquanto a caderneta pagou apenas 2,47%”, diz a head da Ágora. “Pode parecer pouca diferença, mas em tempos de juros baixos qualquer meio ponto percentual conta muito.”
Para decidir entre os três tipos de investimento é preciso analisar qual é a necessidade de liquidez do investidor, ou seja, se ele pode precisar resgatar o dinheiro a qualquer momento. “LCIs e LCAs são isentas de Imposto de Renda, então seu retorno costuma ser melhor que o dos CDBs, que pagam imposto. Mas você fica travado até o vencimento do título, o que não acontece com o CDB”, diz Savioli.
As instituições financeiras oferecem LCIs e LCAs com prazos variados, alguns bem curtos, como 3, 6, 9 ou 12 meses. Em linhas gerais, quanto mais longo, maior será o rendimento. Por isso, uma boa ideia é fracionar o dinheiro em títulos diferentes, deixando com prazo menor o montante que pode vir a ser usado mais cedo e permitindo que o resto do capital seja melhor remunerado em vencimentos mais longos.
Onde não colocar o dinheiro
Enquanto CDBs, LCIs e LCAs são bons portos seguros para o dinheiro vindo das cadernetas, outros investimentos dentro da renda fixa se mostram opções ainda piores do que a poupança neste momento. Estamos falando dos fundos DI e de papéis do Tesouro Direto, como a LFT (conhecida como Tesouro Selic).
“Neste momento em que os títulos do governo têm rendimento negativo, a poupança se salvou, justamente porque não sofre marcação a mercado. Por isso, de um mês para cá, ela se tornou mais competitiva que os fundos e o Tesouro, sem surpresas negativas”, diz o administrador de investimentos Fabio Colombo.
Como é isenta de taxas de administração e IR, na atual conjuntura a caderneta tem uma vantagem expressiva sobre os fundos DI. Essa diferença é ainda mais gritante para as pequenas quantias, pois tíquetes baixos só têm acesso a fundos com taxas mais salgadas, e também para o horizonte de tempo da aplicação.
“Como a alíquota de IR começa em 22,5% e só chega a 15% após dois anos, quem movimenta o dinheiro dos fundos com frequência acaba pagando um imposto muito alto”, diz Colombo.
CDBs, LCIs e LCAs também têm risco de crédito – mas contam com a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), até R$ 250 mil por instituição e por CPF. “Ninguém paga 125% do CDI sem risco. Mas, nesse momento, entendo que essas são as melhores alternativas para o investidor não ter surpresas”, conclui o administrador de investimentos.