A vitória de Joe Biden foi muito comemorada na Casa Rosada, por vários motivos. Um deles, era a certeza de que o presidente eleito dos Estados Unidos teria uma boa relação com o papa Francisco, hoje uma das principais referências do governo argentino fora do país. Dito e feito.

Para satisfação do presidente Alberto Fernández, o papa parabenizou Biden pela vitória e mostrou-se afetuoso com o presidente eleito, a quem recebeu no Vaticano em 2016.

Biden é o segundo presidente católico dos Estados Unidos, depois de John Kennedy. Suas referências ao catolicismo são frequentes e quem o conhece assegura que sua fé foi fundamental para superar a morte de sua primeira mulher e de uma filha. Em 2015, a mesma fé ajudou o presidente eleito a enfrentar a morte do filho Beau.

Para o governo argentino, esta relação é muito importante, já que Francisco deu seu total aval ao presidente Fernández e à sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner. O papa nunca escondeu sua preferência pelo peronismo, embora tenha sido crítico dos governos Kirchner quando ainda era arcebispo de Buenos Aires.

Fernández acredita que a eleição de Biden vai equilibrar as forças políticas na região, reduzindo a influência do governo do presidente Jair Bolsonaro à sua mínima expressão.

Sem Donald Trump na Casa Branca, os argentinos sustentam que Bolsonaro ficará ainda mais isolado, deixando espaços para eventuais novas alianças continentais. Alguns sinais já foram dados, por exemplo, pelos presidentes que compareceram à posse de Luis Arce, na Bolívia. Lá estavam Fernández, o paraguaio Mario Abdo Benítez e o colombiano Iván Duque. O Brasil foi representado por seu embaixador em La Paz, Octavio Cortes. O Uruguai enviou seu chanceler, Francisco Bustillo.

Portas se abrem para a Argentina, enquanto outras se fecham para o Brasil de Jair Bolsonaro.

Telefonema

O papa Francisco conversou com Joe Biden por telefone nesta quinta-feira (12) e desejou “bênção e parabéns” ao presidente eleito dos Estados Unidos por sua vitória, informou em nota a equipe de transição democrata.

“O presidente eleito agradeceu à Sua Santidade por suas bênçãos e parabéns e destacou seu apreço pela liderança de Sua Santidade na promoção da paz, reconciliação e dos laços comuns da humanidade em todo o mundo”, de acordo com um informativo sobre a ligação divulgado pelo escritório de Biden.

Biden “expressou o desejo de trabalharem juntos com base na crença compartilhada na dignidade e na igualdade de toda a humanidade em questões como a atenção aos marginalizados e pobres, a gestão da crise climática, e a recepção e integração de imigrantes e refugiados nas nossas comunidades”.

Este ano, durante a tensa campanha contra o presidente Donald Trump, Biden citou o papa João Paulo II, invocou com frequência suas raízes católicas irlandesas e prometeu “restaurar a alma dos Estados Unidos”, após quatro anos de profundas divisões. O presidente eleito costuma levar consigo um terço que pertenceu ao seu falecido filho, Beau Biden.

O próprio papa Francisco teve relações tensas com Trump. No começo de 2019, ele chamou o projeto de Trump de erguer um muro na fronteira com o México de “loucura”.

Em fevereiro de 2016, quando Trump tentava obter a indicação do Partido Republicano para a Casa Branca, o papa disse durante uma visita ao México que alguém que pensa em construir muros no lugar de pontes “não é cristão”. Trump respondeu com uma declaração ríspida na ocasião, afirmando: “é uma vergonha um líder religioso questionar a fé de uma pessoa”.