Quarta-feira, 14 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 13 de maio de 2025
No último dia 8, se completaram dois anos da morte da cantora Rita Lee. Ícone da música brasileira e figura pública de atitudes e opiniões marcantes, a artista faleceu após enfrentar uma batalha contra um câncer de pulmão desde 2021. Ainda precisa ser produzido um documentário que retrate Rita Lee Jones (31 de dezembro de 1947 – 8 de maio de 2023) com toda a complexidade da artista. Filme de Oswaldo Santana que entra em circuito em 22 de maio após ter estreado 30ª edição do festival É tudo verdade, “Ritas” molda um retrato unidimensional da cantora, compositora e instrumentista paulistana que abriu alas femininas no rock brasileiro.
Já “Rita Lee – Mania de você”, documentário de Guito Goldberg disponível na plataforma Max desde 8 de maio, deixa lacunas abertas ao contar a vida e obra da artista. Excluir o grupo Os Mutantes do roteiro é ação injustificável, ainda que o pedido de uso de imagens do trio no filme tenha sido ignorado pelo guitarrista Sérgio Dias. A julgar pelo filme, parece que a carreira de Rita Lee engrena em 1973 com a união da cantora com o grupo Tutti Frutti.
É fato que a parte mais expressiva do cancioneiro de Rita Lee surgiu mesmo a partir do álbum Fruto proibido (1975), disco marcante que completa 50 anos. É fato também que a obra de Rita atinge nível de excelência pop a partir da união afetiva e musical da artista com Roberto de Carvalho em 1979 (a primeira parceria do casal, Disco voador, é de 1978 e figura no último dos quatro álbuns de Rita com o Tutti Frutti).
Ainda assim, a história resulta incompleta porque a parte dos Mutantes poderia ter sido contada em depoimentos, sem uso de imagens (ou com a capa de algum disco do grupo ao fundo do cenário de algum entrevistado).
Ao longo dos 82 minutos, o diretor Guito Goldberg resume a trajetória musical de Rita a partir de 1973 sem visão crítica e com alguma (justificada) ênfase na censura das letras de compositora que derrubou barreiras ao falar de amor e sexo sem pudor sob prisma feminino e jovial no universo masculino do rock. Que fique registrado: Rita Lee foi tão perseguida pela censura quanto os compositores da MPB.
Na vida pessoal, o uso e abuso de álcool e drogas pela artista é assunto abordado com clareza no documentário. Só que, no geral, em que pesem algumas raras imagens de arquivo, o filme deixa sensação de que Rita Lee – Mania de você é documentário para quem desconhece Rita Lee.
Para quem conhece, entrevistados como Ney Matogrosso e Gilberto Gil enfileiram clichês ao falar da artista. Faltou um mergulho mais fundo na história, contada sobretudo através dos depoimentos de Roberto de Carvalho, dos três filhos de Rita com Roberto – Beto Lee, João Lee e Antonio Lee – e da irmã Virgínia Lee, além de Guilherme Samora, amigo da família.
Até porque Rita Lee foi muito mais fundo na autobiografia que lançou em 2016 e na sequência já póstuma de 2023 em que detalhou a longa batalha contra o câncer de pulmão diagnosticado em 2021. Avalizado pelos herdeiros da cantora, o filme Rita Lee – Mania de você fica na superfície. (Mauro Ferreira)