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Comportamento Durante a pandemia, usuários das redes sociais compartilham sentimentos e questões pessoais com seus seguidores

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Apesar de não ser causador do fenômeno, o isolamento social intensificou trocas íntimas com estranhos nas redes. (Foto: Reprodução)

A vulnerabilidade é definida como um sentimento experimentado em momentos de incerteza e exposição. Admitir publicamente essa vulnerabilidade, o que antes poderia ser interpretado como fraqueza, é hoje estimulado – até mesmo no ambiente online. E durante a pandemia, a novidade é que usuários passaram a falar sobre sentimentos e contar histórias de vida nem sempre positivas, rompendo – ou pelo menos tentando romper – com a era da perfeição das redes sociais.

Quando a quarentena virou uma realidade, em março de 2020, foi imposto uma cobrança da produtividade na internet. Pessoas incentivando aulas de yoga, meditação, exercícios físicos, métodos de organização. Tudo para sair do tédio e “aproveitar” os minutos dentro de casa. Hoje, um ano depois, percebemos que respeitar o próprio ritmo é muito mais importante do que ocupar o tempo, simplesmente. Com isso, o tema da saúde mental ganhou destaque, o que também proliferou o uso da conversa para a mercantilização dos problemas.

“É positivo quando as pessoas falam que passam por isso, por tirar o tabu de falar de saúde mental, pois em nossa sociedade parece que o sofrimento é uma falha. Mas não no sentido de querer ensinar uma fórmula mágica para lidar com ele, porque não tem. Não existe um protocolo que serve todo mundo”, explica a psicóloga Cristiane Moreira da Silva, membro da Sociedade brasileira de psicologia e autora do livro Intimidade On Line: Outras Faces do Diário Íntimo na Contemporaneidade (Editora Appris, 2020).

Para Gabi Próspero, publicitária e artesã de 32 anos, que foi diagnosticada com ansiedade e depressão aos 22, a atitude é cruel. “Na sua fase vulnerável da crise, você procura alguém que fale ‘faça isso que vai melhorar’”, diz. Três meses depois do início da quarentena, quando o seu “lugar de fuga, virou lugar de sufoco”, Gabi passou a publicar em suas redes sobre as crises de pânico e ansiedade. “É muito difícil você achar pessoas reais no Instagram. Então eu tive essa ideia de começar a falar sobre”, divide.

Para ela, a fala é extremamente importante para o tratamento. “Quando você começa a falar alto, você vê o efeito que aquilo tem em você. E falar nas redes é algo muito mais difícil do que falar com o psicólogo, porque são várias pessoas ali podendo te julgar”, coloca. São as respostas dos seguidores e a escuta, que a encorajam a continuar. “Eu acredito que o Instagram não precisa ser só um local de fotos bonitas, ele é uma rede de apoio também”, opina.

Outra rede que se tornou um local seguro para essa troca de experiências foi o Clubhouse, plataforma de áudios que ganhou muito destaque em fevereiro deste ano. Em salas dos mais variados temas, usuários não têm medo de abrir o microfone e compartilhar detalhes pessoais, gritos, choros ou qualquer outro ruído necessário para seguir com o dia. Em muitos, a troca serve como apoio, principalmente em tempos de mínima relação social.

Mulher negra, mãe solo, sobrevivente de um câncer e pessoa com deficiência, a produtora cultural aposentada Flávia Diniz, de 41 anos, sabe bem o que é o preconceito e fala sobre ele tanto no Clubhouse quanto em seu Instagram. “Eu sinto que falta humanidade; e é nessa busca que eu faço o que faço. Eu me abro, eu me exponho para tentar mudar o mundo, mas eu não quero que ninguém tenha pena de mim. Não preciso disso. Preciso de um frila [FREELANCER], preciso rir, preciso beijar na boca”, brinca ela.

Além de participar de outras salas, Flávia, ao lado de seu irmão Marcelo, criou o Quilombo PCD, no qual as conversas trazem a visão de pessoas com deficiência na sociedade sobre diferentes âmbitos. “O meu objetivo é elevar a autoestima da pessoa com deficiência”, diz.

Online

De acordo com Luiz Arruda, head de Mindset da WGSN, a mudança nas redes vem com a evolução do marketing de influência. “A gente passou a ver um seguidor com muito mais ferramentas e capacidade de reflexão. E as redes sociais capacitaram essas pessoas a discutir essas questões que chegavam prontas, horizontalizando as relações”, diz.

Ou seja, os usuários além de quererem saber muito mais a opinião das pessoas que seguem, elas querem participar da conversa. A creator Krishna Sousa, de 25 anos, vê com bons olhos a novidade. “Quanto mais a gente abraçar isso, entender que todo mundo passa por dificuldades, mais saudável vai ser pra gente enquanto sociedade”, coloca. “A gente está numa época em que a internet virou uma extensão da vida real e estamos finalmente se acostumando em sermos nós mesmos; ter uma internet que mostra as outras partes que fazem parte do que é ser humano”, diz.

No Twitter, Krishna não tem problemas em contar situações íntimas relacionadas ao emprego, sexualidade e vivência. Coisas que ela mesmo chama de ‘micro crônicas do cotidiano’. “A exposição aproxima, mas também pode servir como arma para pessoas. Ela já me trouxe problemas, porque alguns assuntos são delicados, e a pessoa que está lendo não sabe o contexto da sua vida. Ela vai tirar uma impressão a partir daquele fragmento”, diz ela que, com mais de 110 mil seguidores, já foi cancelada algumas vezes.

Apesar de não ser a causadora da exposição da intimidade nas redes, a pandemia potencializou a prática. Afinal, dentro de casa, acaba-se mostrando mais, causando uma verdadeira desconstrução entre a fronteira do público e privado.

A escritora Brené Brown, que estuda vulnerabilidade há mais de 12 anos, diz que assim como é preciso ter o sentimento para se expor, é preciso tê-lo para pedir ajuda. Por isso, no caso das exposições online, é preciso entender o linear entre um mal-estar e uma patologia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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