Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2024
Dois eventos recentes revelaram o humor do mercado financeiro em relação à possibilidade de vitória do republicano Donald Trump nas eleições presidenciais de novembro nos EUA: a forte queda das bolsas e a disparada do dólar nos dias que se seguiram ao atentado frustrado ao ex-presidente e à desistência de Robert Kennedy Jr. de sua candidatura à Casa Branca. Na opinião de analistas, tanto o atentado como a desistência de Kennedy, que passou a apoiar Trump, poderiam aumentar a chance de uma vitória do republicano, o que elevou a volatilidade e instabilidade nos mercados, diante de seu programa de governo ortodoxo e comportamento errático.
Embora a entrada da candidata democrata Kamala Harris na disputa, substituindo o presidente Joe Biden, tenha reduzido as chances de vitória de Trump, o mercado ainda não descartou isso. “Trump é salto no escuro”, avalia Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners. Kasper Köchli, economista do banco suíço Julius Baer, associa uma vitória republicana a um risco maior do já expressivo déficit fiscal e de incertezas na política monetária. Já Yves Bonzon, CIO do Julius Baer, diz que Trump prima pela falta de clareza e apresenta propostas contraditórias, o que torna seu governo apenas uma “conjectura”.
Na opinião de Chris Turner, economista-chefe do banco ING, uma vitória de Trump faria o dólar voltar a se fortalecer e os “yields” (retornos) dos títulos de dez anos do Tesouro chegariam a 5% – essa taxa fechou a 3,9% na última sexta-feira.
Para Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, as políticas anunciadas pelo candidato republicano, que passaram a ser conhecidas como “Trump trade”, englobam uma valorização do S&P no curto prazo, apreciação do dólar, especialmente em relação a moedas de mercados emergentes, com ampliação de cortes de impostos e aumento de tarifas, principalmente com a China. “A menos que você seja residente dos EUA, e beneficiário do corte de impostos, para o resto do mundo uma vitória do Trump significa dias mais difíceis”, disse. Já Kamala seria continuidade do que tem até aqui, mantendo problemas fiscais que não seriam agravados nem melhorados.
“Não tem introdução de tarifas, embora tenha medidas protecionistas, mas menos danosas que tarifas de Trump. Em um cenário de continuidade, a grande questão de um governo Kamala é se ela vai aumentar impostos para equilibrar déficit ou aumentar gastos.”
O economista Rodrigo Azevedo, fundador da Ibiúna Investimentos, disse, durante evento no fim de semana da Expert XP, que um governo Trump com redução de impostos e aumento de tarifas e menos regulamentação, algo tradicional dos governos republicanos, é positivo para o S&P 500, mas fortalece o dólar. “Kamala teria menos crescimento, dólar mais fraco e juros mais perto da meta do Fed.”
Pouco mais de um mês após a entrada de Kamala na disputa, ela já conta com 55% das intenções de voto contra 48% de Trump, segundo o site Predictit. “Uma vitória de Kamala seria a manutenção do status quo, traria mais capacidade de previsão para o mercado, seria uma continuidade de um governo democrata, sem surpresas”, diz Leal, da G5 Partners. Já Trump poderia elevar um prêmio de risco nos títulos do Tesouro dos EUA, uma vez que as preocupações com a sustentabilidade da dívida dos EUA possam crescer diante de uma vitória republicana. “Desregulamentação combinada com corte nos impostos são positivos para os lucros das empresas, pelo menos inicialmente, mas tarifas comerciais mais elevadas e a redução da imigração provavelmente apagarão esses ganhos ao longo do tempo”, afirma. “O mais importante é que a probabilidade de níveis de inflação estrutural maiores em um segundo governo Trump não deve cair”, disse, citando projeções de empresas de pesquisa como a Oxford Economics e o Instituto Peterson para Economia Internacional.
Enquanto o caminho a ser seguido pelo Federal Reserve (Fed) está mais claro, com o início do afrouxamento monetário esperado para setembro, Bill Papadakis, estrategista sênior de macro do Lombard Odier, vê as políticas e ideias de Trump, bem como a forma e o calendário que vai escolher para as implementar e o apoio que terá no Congresso e no Senado, ainda relativamente desconhecidas. “Então, acho justo dizer que há mais espaço para surpresa aí [na vitória de Trump].” As informações são do jornal Valor Econômico.