Sábado, 27 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 4 de maio de 2023
A decisão dura e sem precedentes do Conselho de Ética do Comitê Olímpico do Brasil (COB) de suspender a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) em decorrência das ações envolvendo o oposto Wallace deve ser sentida no bolso da confederação, que pode perder cerca de R$ 36 milhões. O atleta foi suspenso por cinco anos como punição por postagem em que ele sugeriu um tiro na cara no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Num movimento inédito e que pegou de surpresa dirigentes do COB e da CBV, o despacho do CECOB, assinado pelos conselheiros Ney Bello Filho, Sami Arap, Humberto Aparecido Panzetti e Guilherme Faria da Silva, determina o corte de repasses do comitê destinados à confederação por seis meses.
A confederação fica suspensa por seis meses do movimento olímpico. Na prática, não pode desde terça-feira, 2, dia em que foi publicada a decisão do CECOB, ter qualquer tipo de apoio do COB, seja financeiro, logístico ou operacional – isto é, a punição se refere também à cessão de espaços físicos, material humano, auxílio tecnológico ou de know how.
A entidade que comanda o vôlei nacional perdeu os patrocínios públicos e também ficou impedida de receber verbas federais, repassadas pela lei Agnelo Piva e pela lei das Loterias. O CECOB recomendou que os recursos privados também sejam suspensos.
Por meio da Lei Agnelo Piva, o COB repassa verba das loterias a todas as confederações olímpicas do País. Levando em conta uma série de fatores, dentre eles desempenho em competições mundiais e Jogos Olímpicos e transparência na gestão, cada uma das entidades recebe um valor anual. Em 2023, a CBV tem direito a R$ 9,8 milhões. Como a suspensão é de seis meses, a confederação deve deixar de receber cerca de R$ 4,8 milhões.
Além disso, o CECOB afirmou que enviou ofício pedindo para que o Banco do Brasil, patrocinador de todas as seleções da modalidade, cancele “todo relacionamento patrimonial ou não patrimonial que as entidades privadas possuam com a CBV e que tenha por pressuposto a participação da entidade no sistema olímpico, cujo vínculo deixa de existir na presente data”. O contrato atual entre a instituição financeira e a confederação, firmado no meio de 2021, é de R$ 248 milhões por quatro anos. Considerando todas as punições, a CBV pode perder cerca de R$ 36 milhões.
Outro acordo que poderá ser suspenso é o da entidade máxima do vôlei no país com a Riachuelo. Recentemente a CBV anunciou o acordo com a marca para o fornecimento e comercialização dos uniformes das seleções e das duplas brasileiras pelo mundo.
Ao Estadão, o Banco do Brasil disse que não vai se manifestar porque não recebeu “qualquer ofício até o presente momento”. A CBV não quis dar nova posição além do comunicado já publicado na terça-feira.
As punições aplicadas à CBV podem afetar as seleções brasileiras de vôlei. Existe o risco de que o Brasil não jogue, por exemplo, o Pré-Olímpico e, por consequência, fique fora da Olimpíada de Paris. A CBV afirmou que as sanções vão impedir, segundo a entidade, a participação das seleções brasileiras nos Jogos Pan-Americanos deste ano, em Santiago, no Chile. Além disso, as equipes nacionais de base da modalidade passam a não saber se conseguirão disputar os mundiais de cada categoria e as duplas do vôlei de praia não têm certeza se jogarão as etapas do circuito mundial.
“A decisão do CECOB prejudica gravemente a preparação do vôlei brasileiro para os Jogos Olímpicos de Paris-2024, e impede a participação das equipes nos Jogos Pan-Americanos, nos Mundiais de base e nas etapas do Circuito Mundial de vôlei de praia”.
Em tese, suspensa, a CBV passa a ser proibida de inscrever jogadores nas competições que definem os classificados para a Olimpíada do próximo ano. Estes torneios serão disputados entre setembro e outubro deste ano. “A CBV garante que empenhará todo o seu esforço e seus recursos para manter a preparação dos atletas, de quadra e de praia, para estas importantes competições”, disse a confederação.
Do ponto de vista legal, a participação brasileira no Pré-olímpico deste ano está em risco. “O risco existirá e será ainda maior caso a decisão do COB encontre respaldo e apoio junto dos órgãos internacionais, se o COI e FIVB entenderem que as punições dadas pelo Conselho de Ética do COB é correta”, considera Higor Maffei Bellini, advogado mestre em direito esportivo. Contudo, eventuais efeitos suspensivos podem modificar o cenário. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.