Sábado, 17 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de janeiro de 2021
Maior aposta do governo federal para o controle da pandemia no país, a vacina contra a covid-19 de Oxford/AstraZeneca foi aprovada na quarta-feira (30) pela agência sanitária regulatória do Reino Unido, tornando-se, depois da vacina da Pfizer, o segundo imunizante ministrado na população britânica. Ela está no plano de imunização nacional do Ministério da Saúde e será produzida no Brasil pela Fiocruz, mas ainda não tem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Confira perguntas e respostas sobre o imunizante:
1) Se a vacina já foi aprovada no Reino Unido, por que ainda não foi no Brasil?
Porque, até agora, o processo de registro da vacina no Brasil não recorreu ao método de submissão emergencial, como aconteceu no Reino Unido. Em vez disso, segue o método de submissão continuada, ou seja, convencional. Na prática, isso significa que alguns resultados de testes sobre eficácia e segurança — coordenados no Brasil pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) — ainda precisam ser entregues à Anvisa para que o pedido de registro seja feito formalmente. Só então a agência poderá aprovar a vacina.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade, disse que a instituição apresentará à Anvisa a documentação completa e o pedido de registro da vacina até o dia 15 de janeiro.
Por outro lado, Trindade também afirmou que a Fiocruz está estudando a possibilidade de submeter um pedido de uso emergencial à agência. A Anvisa e a AstraZeneca se reuniram para tratar do assunto. Na ocasião, ficou estabelecido que um possível pedido de autorização emergencial virá da Fiocruz. Assim, como Trindade sugeriu, pode ser que a aprovação chegue antes mesmo do dia 15.
No Brasil, assim como em outros países, as aprovações de emergência levam em conta o parecer de outras agências sanitárias regulatórias internacionais. Portanto, para Marco Krieger, vice-presidente de produção e inovação em Saúde da Fiocruz, a autorização da MHRA (equivalente à Anvisa do Reino Unido) abre uma perspectiva favorável para a vacina de Oxford no Brasil. No entanto, a lei 13.979, que aborda a aprovação emergencial de imunizantes para a covid-19 no país, não menciona a agência britânica, embora mencione agências de outros países, como Japão, China e Estados Unidos.
2) Como será a produção da vacina no Brasil?
A fabricação da vacina de Oxford no Brasil será realizada pela Fiocruz, em parceria com a farmacêutica britânica AstraZeneca. O acordo firmado entre a fabricante, a Fiocruz e o Ministério da Saúde prevê a fabricação de 100,4 milhões de doses até o primeiro semestre de 2021, sendo 30 milhões no primeiro trimestre. O material será entregue ao Ministério da Saúde, que se encarregará de sua distribuição.
Segundo a Fiocruz, a produção da vacina no Brasil deve começar no fim de janeiro e alcançará a marca de 3,5 milhões de doses por semana até o fim de fevereiro. De acordo com Nísia Trindade, o primeiro milhão de doses ficará pronto entre 8 e 12 de fevereiro de 2021.
3) Como foi criada a vacina de Oxford?
Ela é baseada num tipo de vírus chamado adenovírus. Via de regra, o adenovírus usado em sua fórmula, o ChAdOx1, contamina chimpanzés. Modificado em laboratório, o ChAdOx1 conduz para dentro das células uma espécie de material genético que produz a proteína S, ou “spike”, do vírus Sars-Cov-2. Essa proteína tem a função de adentrar as células humanas, provocando a covid-19.
Em tese, quando ministrado, o ChAdOx1 incentiva as células humanas a produzirem somente a proteína S. O organismo entra em contato com um corpo estranho, ativando o sistema imune e gerando defesa específica contra a proteína “spike” (espícula).
4) Afinal, a vacina de Oxford é mesmo eficaz?
Sim. Um erro de dosagem nos testes chegou a pôr em dúvida a credibilidade do imunizante da AstraZeneca, mas um estudo independente posterior, publicado na revista “Lancet”, reiterou a eficácia da vacina contra a covid-19.
Por engano, parte das pessoas que se voluntariaram para os testes da vacina recebeu meia dose e depois uma dose completa, em vez das duas doses inteiras previstas na metodologia do estudo. Isso fez com que o imunizante registrasse dois níveis diferentes de eficácia. E o detalhe mais intrigante foi que ele se provou mais eficaz entre quem recebeu uma dose e meia (90%) do que entre quem recebeu duas doses (62%). Diante disso, cientistas passaram a desconfiar dos resultados da vacina.
No entanto, no início de dezembro, a revista “Lancet” publicou uma revisão dos testes em que reitera a alegação de que a vacina oferece 90% de proteção a voluntários que receberam uma dose e meia. A eficácia geral, porém, foi de 70%.