Sábado, 07 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de junho de 2025
Exames de sangue são fundamentais para prevenção e diagnóstico de doenças e monitoramento da saúde. E, com o avanço da medicina e da tecnologia, esses simples exames já podem dar informações sobre a longevidade, avaliando, por exemplo, se o cérebro está envelhecendo muito rápido e como está a saúde dos demais órgãos.
A nova classe é chamada cientificamente de proteômica (ou teste de idade do órgão). É um tipo de teste que mede as proteínas. Reportagem do Business Insider destaca que, por enquanto, não está disponível para os consumidores, mas já está sendo usada por cientistas em universidades de elite e clínicas de longevidade de alto nível – e eles esperam que, nos próximos anos, possa se tornar uma ferramenta de fácil acesso.
Os dois exames proteômicos mais conhecidos no momento são o Olink e o SOMAscan, que custam entre US$ 400 (aproximadamente R$ 2,2 mil) e US$ 800 (R$ 4,4 mil). A startup Vero, que surgiu de uma pesquisa proteômica na Universidade de Stanford, pretende testar a versão beta de um produto do tipo neste ano. O plano é que seja disponibilizada aos pacientes por cerca de US$ 200 (aproximadamente R$ 1,1 mil).
Medição de proteínas
Hoje, existem testes de “idade biológica”, que basicamente analisam as “mudanças epigenéticas”, ou seja, como fatores ambientais afetam a expressão genética. No caso do exame de proteômica, que mede as proteínas, é uma ferramenta que oferece uma avaliação em tempo real de como o corpo está funcionando e rastreia mudanças importantes, mas sutis, que surgem dentro de cada pessoa à medida que envelhecem.
Se validado nos próximos anos, poderá se tornar essencial na detecção e prevenção precoce de doenças, ajudando a influenciar todos os tipos de decisões médicas, desde quais medicamentos o paciente deve tomar até como o corpo dele responde à cafeína ou ao álcool, por exemplo.
Evelyne Bischof, médica especialista em longevidade, relatou ao BI que usa informações proteômicas para orientar algumas das intervenções de estilo de vida que ela recomenda aos seus pacientes.
Por exemplo, com base nos resultados, ela pode sugerir uma dieta mais rica em polifenóis para alguém que parece ter alta inflamação e neuroinflamação ou até que faça um pouco mais de treinamento cognitivo.
Outra médica que usa o teste de proteômica é Andrea Maier, professora de Medicina e Envelhecimento Funcional na Universidade Nacional de Singapura.
“Queremos saber que tipo de ‘etótipo’ uma pessoa é, ou seja, que tipo de personalidade envelhecida tem, não de uma perspectiva mental, mas de uma perspectiva física”, falou ao BI. “É realmente uma descoberta neste momento, e está prestes a ser clinicamente significativa.”
Maier acrescentou que, “assim que tivermos essa ferramenta validada, vamos adicioná-la aos nossos testes de rotina e podemos simplesmente marcar a caixa e dizer: ‘Também quero saber se essa pessoa tem problemas cardíacos, cerebrais ou musculares’, porque agora temos um parâmetro sensível – proteína – que pode ser adicionado”.
Descobertas importantes em Harvard
Na Universidades de Harvard, Vadim Gladyshev, pesquisador de envelhecimento, fez descobertas importantes. Seu estudo publicado no início do ano sugere que, à medida que envelhecem, cada pessoa pode até se beneficiar de uma lista de compras antienvelhecimento ligeiramente diferente.
Ele analisou proteínas no sangue de mais de 50.000 pessoas no Reino Unido, todas participantes do banco de ados UK Biobank, monitorando seus hábitos diários e rotinas autorrelatadas, como dieta, ocupação e medicamentos, e comparando esses detalhes com o envelhecimento dos órgãos.
Dentre suas descobertas estão que o consumo de iogurte, em termos gerais, tendia a ser associado a um melhor envelhecimento intestinal, mas não trazia benefícios para as artérias. Já o consumo de vinho branco parecia conferir algum pequeno benefício às artérias, enquanto causava estragos no intestino.
“O ponto principal é que as pessoas envelhecem de maneiras diferentes em diferentes órgãos e, portanto, precisamos encontrar intervenções personalizadas que se ajustem a essa pessoa em particular”, salientou o pesquisador ao BI. “Através da medição de proteínas, você avalia a idade de diferentes órgãos e diz: ‘OK, esta pessoa envelhece nesta artéria.'”
Para Pal Pacher, pesquisador sênior do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo, que estuda o envelhecimento e as lesões de órgãos, a proteômica ainda não está pronta para uso clínico, pois “há muito ruído nos dados”. Mas ele imagina um futuro em que um relógio proteico mais sofisticado poderia ajudar a identificar quais pessoas podem ser mais vulneráveis a doenças como câncer precoce, doença renal e outras.
E já há novidades nessa área. A empresa de proteômica Seer anunciou no último fim de semana o lançamento, em parceria com a Universidade da Coreia, da Coreia do Sul, de um estudo populacional com o objetivo de identificar novos biomarcadores sanguíneos que possam levar ao diagnóstico de câncer em jovens adultos na faixa dos 20 e 30 anos.
Segundo a companhia, os avanços mais recentes da sua plataforma “permitirão análises proteômicas profundas e imparciais de 20.000 amostras de plasma em menos tempo e custo do que nunca”.
E completou: “Ao aproveitar o poder da análise proteômica profunda, este estudo visa catalisar uma nova onda de diagnósticos mais sensíveis, escaláveis e personalizados, impulsionando intervenções mais precoces e melhorando os resultados de sobrevivência em pacientes adultos jovens com câncer em todo o mundo”.