Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 27 de setembro de 2022
Imagens de satélite registraram um engarrafamento de 16 quilômetros na fronteira da Rússia com a Geórgia nesta semana. A fila de carros e caminhões foi formada, sobretudo, por russos em fuga após a ordem de mobilização militar de cerca de 300 mil reservistas decretada pelo presidente Vladimir Putin.
Os registros foram pela empresa americana Maxar Technologies. As imagens mostram enormes filas de veículos tentando deixar o território russo para entrar na Georgia. Também há fotos aéreas que mostram os carros alinhados nas divisas com a Finlândia e o Cazaquistão.
De acordo com o Ministério do Interior do Cazaquistão, cerca de 98 mil russos entraram no país desde que a mobilização foi anunciada em 21 de setembro.
Um dia depois de declarar a mobilização militar parcial na Rússia, o Kremlin anunciou as regras para a convocação de reservistas. Loco após o anúncio, russos começaram a lotar aeroportos em busca de voos para qualquer país que não exija visto, como a Turquia, Armênia, Albânia e Emirados Árabes. A busca de passagens para esses locais fizeram os preços dispararem.
A convocação de reservistas também desencadeou uma onda de protestos na Rússia, que veio acompanhada de repressão policial. O número de manifestantes presos passava de 2.350 nesta segunda-feira.
Nesta mesma data, o governo russo admitiu “erros” na convocação de reservistas para lutar na guerra na Ucrânia, após uma série de denúncias vindas de todas as partes do país, e de críticas vindas até mesmo de aliados. A admissão vem no momento em que milhares de homens russos fazem filas em aeroportos e postos de fronteira, em meio a rumores sobre a adoção de restrições a saídas para o exterior.
Impacto da convocação
Diante dos claros avanços das forças ucranianas no campo de batalha, o presidente russo Vladimir Putin decretou uma “mobilização parcial” na última semana como estratégia para reverter a maré favorável à Ucrânia. Mas qual efeito a mobilização pode ter?
Obviamente, não é possível prever o futuro, mas sim destacar os cenários decisivos para o sucesso — ou fracasso — da operação, que enfrenta sérios obstáculos do ponto de vista político e logístico/militar. Sem dúvidas, o recrutamento lançado por Putin pode prolongar uma guerra sangrenta.
No aspecto político, cresce a rejeição popular à medida, que está sendo realizada de forma indiscriminada, sombria e caótica; fator que pode levar a uma erosão considerável do apoio à ofensiva contra a Ucrânia — e ao regime que a lançou. O desenho da mobilização já surpreendeu o vice-ministro responsável pela logística do Exército e provocou críticas até mesmo dos aliados de Putin, como o líder checheno Ramzan Kadyrov, que garantiu que pessoas não serão recrutadas em sua região e que, ao invés disso, as forças deveriam seguir em frente.
No nível logístico-militar, os desafios são enormes. Mobilizar centenas de milhares de pessoas com preparação militar anacrônica ou mesmo sem qualquer tipo de treinamento requer não apenas o recrutamento — ao qual tantos parecem se opor —, mas também moradia, vestuário, armamento, treinamento, adequando o reforço às estruturas militares existentes. Muitos sinais apontam que a Rússia não está bem preparada para realizar essa operação de forma eficaz.
O Exército do Kremlin nem sequer tem material suficiente para oferecer aos novos recrutas, diz uma fonte do El País. As empresas têm trabalhado por peça e, há poucos dias, Putin deu a ordem para acelerar e aumentar ainda mais a produção, mas até uniformes estão em falta. Isso sem contar a preparação das tropas — o ponto mais crítico em todos os sentidos e não apenas pela baixa qualidade dos futuros recrutas, mas pelo que isso significa para o ataque.
“Uma coisa é mobilizar cerca de 300 mil pessoas, outra é injetar 300 mil soldados treinados nas linhas de frente”, disse ao El País Anthony King, professor de Estudos de Guerra na Universidade de Warwick, no Reino Unido.
“As forças russas são péssimas em termos de seleção e treinamento. É, em geral, um sistema pouco profissional, corrupto, propenso ao bullying. Eles não estão bem preparados para incorporar bem tudo isso”, completa.
Não será uma força “competente”, prevê a analista militar Dara Massicot, da consultoria Rand.