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Colunistas Gananciosos

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Pesquisadores da área de gestão, particularmente aqueles com interesse em estudos organizacionais sobre ética, vem há tempos alertando para uma disfuncionalidade na política de incentivos nas grandes corporações. Com o foco em resultados cada vez mais a curto prazo, conciliar uma efetiva política ESG tem sido um exercício bastante desafiador para gestores cada vez mais assoberbados. Parece que o desafio de equilibrar recompensas justas para os CEOs e garantir segurança para os investidores ainda está longe de uma equação saudável. Sustentabilidade do meio ambiente, responsabilidade social e governança corporativa deveriam andar juntas, de forma harmônica, resultando em maior garantia para os investidores ou demais stakeholders. Contudo, a premência por lucros quase que a qualquer custo, tem colocado bastante pressão sobre os controles internos das organizações, cada vez maiores e mais complexas, e de cujo sucesso dependem milhões de pessoas. O colapso espetacular da Americanas, ocorrido neste início de 2023, além de atingir em cheio o mercado de capitais, colocou em dúvida os atuais mecanismos de “compliance”, particularmente aquele exercido por grandes empresas de auditoria, incapazes de detectar o que agora se configura como um dos maiores escândalos financeiros do País e que sinaliza ter na avareza dos dirigentes implicados um dos seus defeitos originais.

Desde os tempos bíblicos, a ganância é reconhecida como um dos principiais vícios humanos, mas assumiu uma repercussão muita mais dramática a partir da moderna sociedade. Antes confinada a um desvio moral, em linha oposta à generosidade, a avareza revela um apego excessivo aos bens materiais, muitas vezes redundando em ruína moral e até financeira, mas jamais comparável aos efeitos secundários tais quais os gigantescos prejuízos para terceiros que atualmente uma gestão corporativa viciada pode ocasionar. O preço da ganância no mundo dos negócios não mais se circunscreve, portanto, ao comportamento individual de alguém, mas potencializou e disseminou o risco em largo espectro, dado que a propriedade das empresas passou por uma pulverização antes inexistente. Hoje, os altos executivos detém poderes que impactam o destino de milhões, devendo haver, assim, especial zelo por parte das autoridades reguladoras e de todo o ecossistema envolvendo auditorias, bancos e a mídia para refrear ímpetos mais indômitos do espírito animal capitalista. Mas tais cuidados de “accountability” podem se revelar insuficientes, dado o aumento da complexidade que envolve as grandes corporações, bem como as inclinações humanas ao vício. A realidade que experimentamos demanda cuidados e preocupações que extrapolam a questão legal e adentram ao terreno da responsabilização moral social, de sorte a confrontar os gestores que aderirem cegamente aos propósitos corporativos, sem considerar os anseios da comunidade, ao ônus da própria consciência. Uma sociedade informada e bem articulada dispensa leis draconianas, mas não pode abrir mão de sua dimensão ética. Fugir à lei, mas não à consciência, nos abre um olhar ético para que tratemos a responsabilidade moral dos gestores de um ponto de vista não apenas coercitivo, mas que transcende a questão da responsabilidade utilitária, cujo maior veneno tem sido muitos gestores servirem a si mesmos, muitas vezes em detrimento da própria organização e todo o seu entorno social.

Apesar de seus defeitos bem conhecidos, o capitalismo ainda é a forma mais racional de alocação de capital e geração de riquezas. Seria precipitado supor que todo o edifício ruiu por conta de um problema localizado, mas é inegável que são perturbadores os sinais de disfuncionalidades crescentes nos mecanismos de prevenção e controle dos órgãos reguladores junto às grandes corporações. Apesar de longo, o caminho para maior responsabilização social moral, além das punições legais, pode ensejar um maior nível de consciência ética, conjugada com o aprimoramento da regulação legal e de “accountability”, com as três esferas convergindo, sem se confundir.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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