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Por Redação O Sul | 4 de maio de 2017
Ser gay deixou de ser considerado oficialmente um transtorno mental na Rússia há quase duas décadas. O país retirou, em 1999, a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, com 26 anos de atraso em relação a Estados Unidos e sete anos depois da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Extraoficialmente, porém, a homofobia ainda é forte no país e há quem siga oferecendo controversos métodos de “cura gay”. Após denúncias de perseguições a homossexuais na república russa da Chechênia, testemunhos de pacientes dessas “curas” começaram a vir à tona, alguns deles relatando impactos “catastróficos” em suas vidas.
Um dos pioneiros nesses “tratamentos” contra a homossexualidade é o psicoterapeuta Yan Goland, 80, que alega ter “curado” 78 homossexuais e 8 transexuais, seguindo um método que inclui “extinguir” a atração por pessoas do mesmo sexo usando sessões de hipnose que podem durar até oito horas. Também emprega uma combinação de psicanálise e terapia que tenta influenciar os sonhos.
“Quando alguém vem se consultar comigo, mostro casos similares, o antes e depois. O paciente se enche de esperanças e entende que precisa seguir um tratamento, que pode durar entre 8 e 18 meses. No caso dos transexuais, pode se estender por até 2 anos e meio. Uma vez tive uma paciente particularmente difícil e trabalhei com ela durante oito anos”, disse ele.
Na segunda fase do tratamento, o objetivo é criar atração pelo sexo oposto, e o método se torna ainda mais polêmico: Goland incentiva seus pacientes homens a ver as mulheres ao seu redor como objeto sexual. “Digo a eles: ande pela rua e olhe para todas as mulheres jovens com as quais cruzar. Escolha a melhor”, explica. O último passo é fazer sexo com pessoas do sexo oposto.
Organizações religiosas
Assim como no Brasil, há várias organizações religiosas russas que também oferecem “tratamentos” para homossexuais. Procuradas pela BBC Rússia, muitas não quiseram revelar a natureza dos tratamentos e disseram que dão entrevistas apenas a meios de comunicação religiosos.
O pastor Yevgeny Peresvetov, líder da organização protestante Vosstanovleniye (palavra russa que significa “ressurreição” e “reabilitação”), promete ajudar gays a “rejeitar” sua sexualidade. “Praticamente todos os homossexuais sofrem (com a) homossexualidade”, diz, classificando isso de “perversão de ordem espiritual”. “Os homossexuais se libertam quando encontram Deus em sua figura paterna”, alega Peresvetov.
Maria, 27, foi levada à força à igreja para ser “tratada” quando tinha 13 anos de idade. Recebeu água benta enquanto fiéis rezavam por ela. “Não conseguia escutar nada. Eu chorava e gritava”, conta ela à BBC. “Eles continuaram a ler preces por um bom tempo. Na igreja, disseram que minha atração por mulheres vinha de Satanás.”
“Me cobriram de água benta e me obrigaram a bebê-la. Às vezes me batiam com varas. Ainda tenho pesadelos. Sinto como se eles tivessem despedaçado a minha mente.” (Folhapress)