Sexta-feira, 19 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2021
Considerado o epicentro do escândalo de espionagem que implicou dezenas de países e figuras públicas (incluindo algumas do primeiro escalão da política global), Israel começa a fechar o cerco contra o grupo NSO, proprietária do software de espionagem militar Pegasus. O programa foi utilizado para “arapongar” civis em pelo menos dez países.
Representantes de Tel-Aviv estiveram em escritórios da empresa nesta semana. O anúncio foi feito pelo ministro Benny Gantz, em viagem oficial a Paris, durante encontro com Florence Parly, ministra da Defesa da França. Ele não revelou detalhes da ação nos escritórios da proprietária do spyware, mas frisou que Israel está levando a sério as alegações de mau uso do programa de spyware, criado pela companhia israelense.
Relatos iniciais da mídia descreveram os movimentos nos escritórios da NSO como uma batida, mas a empresa disse em um comunicado que as autoridades haviam feito uma visita e não invadido suas instalações. O grupo disse ter sido informado com antecedência que funcionários do Ministério da Defesa responsáveis por supervisionar as transações comerciais de ciberexportações estariam fazendo uma inspeção.
Gantz disse à ministra francesa que Israel está levando as acusações a sério, afirmou um comunicado do gabinete de Parly. “Israel concede licenças cibernéticas apenas a Estados-nação e apenas para serem utilizadas para as necessidades de lidar com o terrorismo e o crime”, completa o comunicado.
Licenciado pelo NSO a governos para rastrear terroristas e criminosos, o Pegasus foi usado em pelo menos dez países para espionar celulares de jornalistas, ativistas de direitos humanos e executivos de grandes empresas, conforme investigação realizada por um consórcio de imprensa formado por jornais como o “The Washington Post” (Estados Unidos), “Le Monde” (França) e “The Guardian” (Reino Unido).
O esquema foi revelado na terceira semana de junho, e desde então novos fatos começaram a vir à tona. A situação é ainda mais sensível com a França, pois a lista de espionados incluiria números de celular do presidente Emmanuel Macron, do ex-primeiro-ministro Edouard Philippe e de 14 membros do governo, como o chefe da diplomacia, Jean-Yves Le Drian. Um serviço de inteligência marroquino teria usado o spyware.
Pressões internacionais
Apesar de o programa ser produzido por empresa privada e de o uso ter sido feito por governos estrangeiros, Israel passou a ser alvo de pressões internacionais para investigar e esclarecer os detalhes do caso. O próprio Macron conversou com o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, para lembrar a importância de investigações adequadas sobre os fatos revelados pela imprensa.
O Parlamento israelense também criou uma comissão para apurar as alegações. Conforme o Grupo NSO, as informações sobre o Pegasus estavam cheias de suposições erradas e teorias não corroboradas: “O Pegasus deve ser usado apenas por agências de inteligência e aplicação da lei do governo para combater o terrorismo e o crime”.