Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 19 de julho de 2020
A utilização de medicamentos com eficácia não comprovada no tratamento contra o o novo coronavírus, como a cloroquina, a hidroxicloroquina e o vermífugo ivermectina, tem gerado controvérsia entre médicos em Santa Catarina.
De um lado, grupos de médicos e pacientes defendem a criação de um protocolo para a prescrição de um coquetel com os medicamentos para o chamado tratamento precoce, no início dos sintomas e sob prescrição médica. Este setor já fez um abaixo-assinado com adesão de mais de 300 médicos pedindo ao governo do Estado a definição deste protocolo.
Em campo oposto, outra ala da comunidade médica alerta que os medicamentos não têm comprovação científica e podem representar riscos de efeitos colaterais como arritmia cardíaca, no caso da cloroquina, e uma falsa sensação de segurança à população. Esta semana, foi apresentado um manifesto com mais de 1 mil assinaturas de médicos com esta visão crítica ao uso de cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina.
A reportagem do jornal Diário Catarinense conversou com dois médicos que defendem o uso desses medicamentos para entender as razões que os levam a apoiar esses tratamentos. Ambos defendem que os remédios possam ser utilizados em pacientes com sintomas iniciais de covid-19, mas ressaltam que essa decisão deve ser tomada apenas em consulta médica, reforçando que a automedicação não é recomendada em nenhuma hipótese.
A endocrinologista Ana Paula Gomes Cunha é uma delas. Ela liderou a elaboração de uma carta enviada à Secretaria de Estado de Saúde, que reuniu a assinatura de 300 médicos catarinenses em defesa do uso do coquetel com medicamentos como a cloroquina e a ivermectina para pacientes com coronavírus.
Ana Paula reconhece que ainda não há estudos que comprovem a eficácia dos remédios contra a covid-19, mas acredita que a utilização deles pode ser uma alternativa para tratar os infectados e tentar impedir que a doença evolua para quadros mais graves.
“A ideia é que a gente trate o paciente na primeira fase, visando evitar que o vírus cause efeitos inflamatórios no corpo. No caso da ivermectina, é um remédio de baixo custo, e que poderia ajudar nesse tratamento, impedindo a sobrecarga do sistema de saúde. Este é o contexto em que defendemos”, afirma.
A médica também diz que os remédios defendidos pelo grupo já são largamente utilizados em humanos e que a defesa é para que haja um protocolo para alinhar os tratamentos, de modo a impedir que médicos prescrevam doses que possam causar efeitos colaterais nocivos.
“A nossa sugestão é que sejam criadas comissões, e que essas comissões decidam de que forma esses medicamentos possam ser utilizados. Não somos favoráveis, de modo algum, à automedicação. O tratamento deve ser definido pelo médico”, pondera Ana Paula.
A defesa de um protocolo com medicamentos como cloroquina e ivermectina rendeu até mesmo a elaboração de um abaixo-assinado de 300 médicos catarinenses pedindo que o governo do Estado desse chamado tratamento precoce em pacientes de covid-19.
Em Balneário Camboriú, a adoção de um protocolo com ivermectina provocou divergência na comunidade médica e provocou a saída do secretário municipal da Saúde. Em Itajaí, o município investiu R$ 4 milhões para distribuir ivermectina para a população.
O também médico Ademar Paes, que preside a Associação Catarinense de Medicina (ACM), adota posicionamento semelhante. Ele afirma que a entidade defende que os medicamentos possam ser utilizados pelos médicos quando os mesmos julgarem que eles são adequados para o paciente em questão.
Ademar Paes argumenta ainda que as evidências científicas sobre a eficácia desses tratamentos contra a covid-19 são “fracas”, mas ainda assim “não deixam de ser evidências”. Ele pondera, no entanto, que elas dizem respeito ao tratamento de pacientes já infectados, e que não há nenhuma indicação de que os mesmos remédios funcionem como forma de prevenção à covid-19.