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Edson Bündchen Keynesianismo 4.0

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A nomeação de Janet Yellen para a Secretaria do Tesouro Americano, os aportes trilionários dos bancos centrais para a manutenção da economia, e a aprovação da independência do Banco Central do Brasil, resgatam a já antiga contenda entre liberais e keynesianos sobre os limites e o papel do Estado na economia. Há precedentes históricos que alimentam ambos os polos em discussão, assim como existem também diferentes pontos de vista baseados em ideologias, muitas delas enfraquecidas por cenários largamente superados. Em contraste, perduram amplos horizontes a descortinar, já que as pessoas, a sociedade e seus costumes estão em constante transformação. É preciso abertura intelectual para absorver novas tendências, formar novos consensos e avançar, sempre considerando as particularidades que compõem a realidade. Nesse contexto, o economista André Lara Resende, em publicação recente, traz importantes contribuições para o atual debate.

A discussão sobre o protagonismo dos governos em questões econômicas, particularmente na gestão da moeda e do crédito, nunca foi matéria pacífica. Agora mesmo, com o encaminhamento da autonomia do Bacen, abre-se aguda polêmica acerca das limitações das políticas públicas, especialmente aquelas de caráter emergencial, a exemplo da “derrama de liquidez” promovida em função da pandemia no mundo todo. Nesse contexto, Lara Resende propõe, a partir da mudança de mentalidade por parte do que ele chama de “cardeais do dogmatismo fiscal americano”, uma guinada na política fiscal brasileira. Segundo ele, existe um colonialismo cultural a ser superado, bem como um evidente medo de perder prestígio e influência intelectual por parte dos liberais, o que prejudica uma análise isenta do tema. Resende também argumenta que as condições mudaram, e um outro paradigma emerge, no qual a relação PIB/Dívida não é somente equivocada, como insuficiente. O certo, segundo o respeitado economista da PUC, seria comparar estoque com fluxo. Nesta nova fórmula, considerando um endividamento da ordem de 90% em relação ao PIB, e uma taxa básica de juros de 2%, os serviços da dívida representam somente 1.7%, fato inédito na nossa economia. No mundo de hoje, existe excesso de oferta de bens e serviços privados e insuficiência de bens e serviços públicos. Atualmente, o Brasil investe menos de 2% do PIB. Em 1970, a taxa era próxima de 8%, e a tendência, a continuar a camisa de força ideológica da inflexibilidade fiscal, é zero!

Há mais economistas que se juntam a Lara Resende na cruzada contra o dogmatismo fiscal. Nomes como Mônica de Bolle, Nelson Marconi e Bresser Pereira, estão convictos de que o crescimento da economia depende do investimento público, em forte complemento ao investimento privado. Nessa visão keynesiana, a responsabilidade fiscal e a disciplina orçamentária devem ser reinterpretadas como a busca da qualidade do gasto e a eficiência na operação do Estado. A estabilidade político-institucional afeta mais a moeda e a inflação do que o endividamento público. Assim, em ambientes recessivos, com capacidade ociosa, o investimento público não concorre com o investimento privado, ao contrário, o complementa e reforça.

O artigo de Lara Resende põe mais lenha na fogueira no já agitado debate que cerca as visões monetaristas e expansionistas na condução da política econômica. Para além da questão acadêmica, trata-se de um assunto com forte repercussão na agenda política, uma vez que o atual governo vai encontrar um ano de 2021 bastante restritivo em termos orçamentários, e claramente a tese intervencionista faz muito mais sentido para uma política de aumento dos investimentos em obras públicas. As apostas estão abertas. Qual corrente dominará a disputa, considerando o atual e complexo mosaico de nossa economia? A estabilidade da inflação, diante do inédito nível de liquidez dos mercados globais, dá uma pista importante sobre quem poderá vencer essa queda-de-braço. Nesse caso, Keynes teria um ótimo palpite a dar.

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