Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 12 de maio de 2018
O presidente Michel Temer saiu em defesa das Forças Armadas e manifestou desconfiança ao memorando escrito em 1974 pelo então diretor da CIA (a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), segundo o qual o então ditador brasileiro Ernesto Geisel (1974-1979) deu autorização para execuções de opositores do regime militar.
“Nesses tempos de delações premiadas, de disse-que-disse, eu aprendi que é preciso ter muito cuidado com informações dessa natureza”, declarou o emedebista à imprensa. Ele também disse que, ao receber essa informação, “achou a história muito estranha”.
Ainda conforme o chefe do Executivo, chamou a sua atenção o fato de as revelações terem vindo de fora do País: “Os documentos não são nacionais, são da CIA, uma entidade estrangeira. E nem tudo o que a agência norte-americana diz é necessariamente uma verdade absoluta”.
Temer também avaliou que “não há um só documento, um só registro, um só depoimento dos envolvidos” corroborando a versão da CIA, que agora vem a público por meio do pesquisador da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Mathias Spector. Em seguida, acrescentou: “E a gente sabe como é. Essas coisas sempre acabam sendo faladas. Mas como nunca foram citadas aqui dentro no Brasil até agora?”.
O presidente frisou quem, conforme a sua própria experiência, os chefes de Estado não conseguem acompanhar tudo o que acontece “lá embaixo, no governo”. E indagou: “Será mesmo que o general Ernesto Geisel teria, de fato, tomado conhecimento ou mesmo autorizado isso?”
Temer manifestou, inclusive, a sua versão sobre a frase atribuída ao então vice-presidente da República, Pedro Aleixo, ao discordar da aplicação do AI-5 (Ato Institucional nº5) em 1968 e tentar substituí-lo pelo instrumento do estado-de-sítio: “Não tenho medo do AI-5, tenho medo do que o guarda da esquina irá fazer com esse ato”.
Além de levantar dúvidas quanto à veracidade da informação que chegou à CIA, Temer tentou fazer uma defesa subjetiva de Ernesto Geisel, gaúcho falecido em 1996 e que foi o penúltimo presidente do regime militar: “Isso não combina com o legado do presidente, conhecido pelo empenho em promover a abertura política, a volta à democracia”.
Acesso
Na avaliação do ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, a divulgação dos documentos da CIA não afeta o prestígio das Forças Armadas brasileiras. Ex-ministro da Defesa, ele garantiu que o governo ainda não teve acesso ao documento de forma oficial, mas afirmou que alguma medida deve se tomada.
“Não estamos desconsiderando esse memorando, no entanto precisamos ter acesso a esse material de forma oficial. O prestígio das Forças Armadas permanece nos mesmos níveis. As Forças são um ativo democrático e isso não tem sido tocado por qualquer reportagem”, criticou.
Jungmann foi evasivo, porém, ao ser questionado sobre quais medidas efetivamente devem ser tomadas. “Não sou mais ministro da Defesa, quem deve tomar essa decisão são os responsáveis pela área”, argumentou.
Comissão
Membros da Comissão Nacional da Verdade defenderam a revisão da Lei de Anistia no STF (Supremo Tribunal Federal), após a revelação do memorando da CIA. “É possível que, com essa nova composição da Corte, a lei seja reexaminada. Esse fato pode servir justamente para estimular a resolução desse impasse”, salientou o coordenador do colegiado, professor Pedro Dallari.
Na sexta-feira, o filho do jornalista Vladimir Herzog (assassinado em meio a uma sessão de tortura, em 1975), Ivo Herzog, pediu ao ministro das Relações Exteiores Aloysio Nunes que o Brasil solicite aos Estados Unidos a liberação completa dos registros do serviço secreto norte-americano.