Quarta-feira, 24 de abril de 2024

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Tito Guarniere O nome da crise

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A semana foi marcada por troca de acusações públicas entre o presidente e os chefes dos Executivos do Rio e São Paulo. (Foto: Carolina Antunes/PR)

O presidente Jair Bolsonaro, além de outros defeitos, é apressado e voluntarioso: toma decisões precipitadas e descobre, como dizia o conselheiro Acácio, que as consequências vêm depois.

O presidente gostou da ideia de uma manifestação a seu favor, marcadas para o dia 15 de março próximo. A favor dele e contra quem?

Demorou um pouco mas ele se deu conta: o maior alvo do protesto só poderia ser o Congresso Nacional, os suspeitos de sempre, os políticos em geral. E quando ele sentiu o cheiro de pólvora, já tinha gravado no WhatsApp um chamamento à participação nos atos marcados para o dia 15 de março, domingo. O problema apareceu bem claro: o chefe de um poder (Executivo) instigava atos hostis contra o outro poder, o Legislativo. Sobrou um pouco também para o STF.

Bolsonaro olha o Poder Legislativo de soslaio. Por falta de paciência, habilidade ou preguiça, mantém frágeis canais de diálogo com deputados e senadores. O general Augusto Heleno, um destacado pró-homem do governo – que alguns chamam de Augusto Veneno – desanca os políticos, acusa-os de chantagem na destinação das verbas do orçamento.

Bolsonaro e sua “entourage”, como se disse tantas vezes, ainda não compreenderam que os votos de deputados e senadores vêm das mesmas urnas que os votos do presidente. Não faltam delinquentes e oportunistas entre os detentores de mandato. Mas sem o Congresso, é a disrupção autoritária, o regime de sombras, o horror da ditadura.

Os projetos de governo têm origem no Executivo, mas ao final e ao cabo, são examinados e votados no Parlamento. Todos os presidentes que confrontaram o Legislativo, relacionando-se mal com as casas do Congresso, pensando em dobrá-lo à sua vontade, se estreparam. Os casos mais notórios são os de Collor e Dilma.

Manda o senso comum e elementar, portanto, que se mantenha com as duas casas legislativas um relacionamento altivo e respeitoso, onde cada qual conhece as suas prerrogativas e os seus limites, de tal sorte que atuem de forma “independente e harmoniosa”, como manda a Constituição.

O atual Congresso não parece dispor (por ora) de votos para o impeachment. Mas de má vontade, arredio, acuado, dá o troco, retalia o governo, atrasa discussões, obstrui a pauta, derruba vetos – paralisa o Executivo.

O presidente, por afobação e destempero, de repente se vê encalacrado nos impasses que ele mesmo cria – só ele. Depois, corre atrás do prejuízo. O titular de um poder que desafia os demais poderes, um deles do qual tanto depende para o seu próprio projeto – se é que ele tem algum –, é a certeza de crise sem fim.

O nome da crise é Bolsonaro. Ele não controla o temperamento irascível, está sempre com uma pedra na mão para atirá-la contra quem cruzar o caminho. Quando dá mancadas monumentais se justifica de forma pífia, dispara desculpas e mentiras infantis. Dobra a aposta e ataca de novo. Ele é o governo e sua própria oposição.

No ínterim, as oposições marcam um contraprotesto para o dia 18 de março. Bolsonaro sozinho, com um gesto amistoso, poderia barrar a marcha da insensatez. Mas, à feição de certos artrópodes, ele não tem como contrariar sua natureza.

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https://www.osul.com.br/o-nome-da-crise/ O nome da crise 2020-03-07
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