Quarta-feira, 21 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 19 de janeiro de 2021
O Pentágono está intensificando os esforços para identificar e combater supremacistas brancos e integrantes de outros grupos de extrema direita em suas fileiras. A investida ocorre no mesmo momento em que investigadores buscam determinar quantos militares e veteranos participaram do violento ataque ao Capitólio em 6 de janeiro.
Como parte dessa ofensiva, as autoridades federais estão passando um pente-fino nos antecedentes dos 21.500 soldados da Guarda Nacional destacados para garantir a segurança na posse de Joe Biden, nesta quarta (20). Pelo menos 12 integrantes da Guarda não passaram na triagem e foram excluídos do contingente, informou o Pentágono nesta terça (19), acrescentando que nem todos estavam ligados a grupos extremistas. Não foram dadas informações detalhadas sobre os afastados.
Desde que a multidão pró-Trump invadiu o Capitólio, a liderança dos 2,1 milhões de soldados da ativa e da reserva tem lidado com o medo de que ex-militares ou membros atuais das Forças Armadas sejam identificados entre os invasores.
A investigação do FBI sobre a invasão já identificou pelo menos seis suspeitos com ligações militares entre as mais de 100 pessoas que estão detidas sob custódia federal. Os suspeitos incluem um tenente-coronel aposentado da Força Aérea do Texas, um oficial do Exército da Carolina do Norte e um reservista do Exército de Nova Jersey. Outra pessoa ligada ao serviço militar foi baleada no ataque e morreu.
O tema da infiltração extremista representa uma nova urgência para o Pentágono, que tem um histórico de minimizar a ascensão do nacionalismo branco e do ativismo de direita. Por mais de uma semana, o general Mark A. Milley, chefe do Estado-Maior Conjunto, ouviu analistas, leu relatórios e assistiu a vídeos do ataque.
Milley também pontuou que viu manifestantes carregando bandeiras militares. No comício de Trump — antes da invasão — e mais tarde durante o ataque ao Capitólio, os invasores foram vistos com bandeiras do Corpo de Fuzileiros Navais, emblemas do Exército e insígnias das Forças Especiais.
Funcionários do Departamento de Defesa dizem que estão tentando aumentar o monitoramento de postagens nas redes sociais de membros do serviço. Ashli Babbitt, que foi baleada e morta ao tentar arrombar uma porta no Capitólio, era uma veterana da Força Aérea com participação intensa nas mídias sociais.
Entre os suspeitos que têm laços militares estão Timothy Hale-Cusanelli, que agentes federais dizem ser um neonazista e supremacista branco. Ele é reservista do Exército e trabalha — com uma autorização secreta — em uma estação de armas da Marinha.
A capitã Emily Rainey, oficial do Exército que disse que transportou 100 pessoas a Washington para o comício de Trump, está sendo investigada pelo Exército por ter conexão com a invasão. Rainey havia pedido baixa no ano passado, mas ainda não havia deixado o serviço.
Na semana passada, o inspetor-geral do Departamento de Defesa anunciou uma investigação sobre a eficácia das políticas e procedimentos do Pentágono que proíbem os militares de defender ou participar de grupos supremacistas ou extremistas.
O ajuste de contas no Pentágono ocorre no momento em que o general aposentado Lloyd J. Austin III está prestes a se tornar o primeiro secretário de Defesa negro do país. Em sua carreira de 41 anos no Exército antes de se aposentar como general em 2016, Austin testemunhou em primeira mão como os militares lidam com a questão racial. Como oficial do Exército, ele contou como teve que confrontar soldados com insígnias nazistas em Fort Bragg, na Carolina do Norte, e de incontáveis reuniões em que era a única pessoa negra na sala.
Nesta terça, em sua sabatina de confirmação no Senado, Austin disse que trabalhará para “livrar as fileiras de racistas e extremistas”, além de combater casos de agressão sexual.
No ano passado, o FBI notificou o Departamento de Defesa de investigações criminais envolvendo 143 pessoas, entre atuais e ex-militares. Destes, 68 estavam relacionados a casos de extremismo interno. A “grande maioria” envolveu militares aposentados, muitos com registros de dispensa ruins, disse um funcionário do Pentágono.
A maioria dos casos de extremismo interno envolveu motivações antigoverno ou antiautoridade, incluindo ataques a instalações e autoridades governamentais, disse ele. Um quarto dos casos estava associado ao nacionalismo branco e um pequeno número estava relacionado a motivações antifascistas ou antiaborto.
O secretário de Defesa interino, Christopher C. Miller, instruiu funcionários do Pentágono no mês passado a endurecer as políticas e regulamentos que proíbem atividades extremistas entre as tropas, além de atualizar o Código de Justiça Militar para tratar especificamente de ameaças extremistas.
“Nós, do Departamento de Defesa, estamos fazendo tudo que podemos para eliminar o extremismo”, disse Garry Reid, diretor de Inteligência de Defesa do Pentágono, na semana passada.