Terça-feira, 15 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2020
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou em entrevista ao programa de TV Conflict Zone, da DW, que no Brasil “está tudo ok”, apesar do aumento das queimadas na Amazônia e no Pantanal, da epidemia de covid-19 e da polarização política.
Na opinião do vice-presidente, o governo brasileiro está fazendo um bom trabalho na luta contra a covid-19, apesar dos quase 150 mil brasileiros mortos pela doença no País.
Ele ressaltou que o governo não concorda com a tortura, mas afirma que o antigo regime militar só poderá ser bem avaliado daqui a alguns anos.
Abaixo, trechos da entrevista.
1) Vice-presidente Hamilton Mourão, há alguns meses, o senhor disse a jornalistas: “Está tudo sob controle, só não sabemos de quem”. Uma admissão perigosa, não? Quão ruim é o caos no governo?
Está tudo bem no nosso governo. Essa era uma espécie de piada que eu costumava dizer, ok? Não foi algo que quis dizer diretamente. Foi uma brincadeira, só uma brincadeira, porque aqui no Brasil está tudo ok.
2) Que tipo de piada foi essa? Dois ministros da Saúde saíram no espaço de um único mês, durante um período de emergência sanitária. Um ministro da Justiça renunciou, um ministro da Educação correu para os Estados Unidos poucos dias depois de deixar o cargo dizendo: “Não quero brigar! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém não me provoquem!”. Isso não é caos suficiente para o senhor?
Não, não é, não é. São coisas que acontecem em qualquer governo. A forma como o ministro da Educação saiu, bom, não foi um grande problema para nós, e, o senhor sabe, o Brasil é um país muito diferente e, bem, algumas coisas que acontecem aqui não acontecem em outros países. É nossa cultura.
3) Então, por que o senhor escreveu um artigo sobre isso? Dia 14 de maio, o senhor escreveu, em um texto publicado em ‘O Estado de S. Paulo’: “Nenhum país vem causando tanto mal a si mesmo como o Brasil”, e alertou que o estrago institucional está levando o país ao caos. Foi o senhor que mencionou o caos e chamou a atenção para ele. O senhor escreveu: “Tornamo-nos incapazes do essencial para enfrentar qualquer problema: sentar à mesa, conversar e debater.” Essa foi uma forte acusação ao seu próprio governo, não foi? Porque são líderes como o senhor que deveriam unificar seu país.
Bem, o País está sofrendo com o que acontece no mundo inteiro. Há um tribalismo excessivo. E os lados políticos são todos muito, diria, polarizados. Há muita polarização na política. Mas nosso governo está conduzindo bem o País e até hoje as coisas estão melhorando, e a relação entre os diferentes poderes está cada vez melhor. Tivemos algumas dificuldades alguns meses atrás, mas agora está tudo ok.
4) Ao alertar sobre todo esse caos, como fez em maio passado, o senhor estava se preparando para os militares intervirem e começarem a lidar com o caos? Em junho, o presidente lançou abertamente a ideia de uma intervenção militar, dizendo que “as Forças Armadas não cumprem ordens absurdas” do Supremo ou do Congresso. Isso era uma ameaça?
Isso não é verdade. Em primeiro lugar, as Forças Armadas estão alinhadas com sua missão constitucional e não estão saindo dela. As coisas aqui no Brasil estão tranquilas e indo bem. E deixo bem claro que a democracia é um valor não só para o governo Bolsonaro, mas também para as nossas Forças Armadas. Então, não existe nenhuma ameaça ao Supremo Tribunal Federal ou ao sistema legislativo aqui no Brasil.
5) E o fato de Bolsonaro ter participado de protestos diante de bases militares, onde seus apoiadores pediam uma intervenção armada para se livrar de governadores, juízes e legisladores que imponham lockdowns em resposta à pandemia? Nenhuma ameaça ali também, suponho.
Bem, na questão da pandemia, as pessoas têm que entender que o Brasil é um país muito desigual. Somos desiguais socialmente, economicamente e, claro, geograficamente. Então, desde o início da pandemia, a gente vem tentando lidar com a curva sanitária, com a curva econômica e com a curva social. É assim que o governo Bolsonaro lidou com essa pandemia.
6) Senhor vice-presidente, uma palavra final sobre a pandemia: no que diz respeito ao coronavírus, você tem o terceiro maior número de casos no mundo depois dos Estados Unidos e da Índia. Mais casos do que toda a Europa. Não é um ótimo registro, não é mesmo?
Bem, como eu disse antes: ok, o Brasil tem muitas desigualdades. Ok, não somos um país igual. Temos problemas sociais e econômicos. E, claro, temos uma geografia enorme aqui no Brasil. Então, tentamos lutar contra isso da melhor maneira possível. Lamentamos por termos perdido as vidas de quase 150 mil brasileiros, mas já curamos mais de 4 milhões de pessoas aqui no Brasil. Portanto, acho que apesar desse número de casos e de mortes, lidamos muito bem com essa crise pandêmica.