Domingo, 06 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 24 de setembro de 2020
O vice-presidente Hamilton Mourão disse, nessa quinta-feira (24), que sobrevoou em Rondônia uma área de terra indígena apontada na leitura de um satélite como foco persistente de fogo – mas que o local não tinha incêndio e se tratava de uma rocha.
Mourão afirmou que não estava “questionando dado nenhum”, mas usou o caso parar defender que os registros sobre queimadas sejam analisados qualitativamente para, na sua visão, diferenciar o que é um foco de calor do que é um foco de queimada.
“Ninguém desacredita dado de queimada. Quando você vai no site do Inpe a coisa é muito colocada, tem x focos de calor, não é queimada”, argumentou Mourão.
O coordenador do programa de queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Alberto Setzer, rebateu o vice-presidente e explicou que, dentro do monitoramento feito pelo grupo, não existe diferença entre os dois termos: focos de calor ou focos de queimadas.
“É tudo igual. Apenas nomes diferentes. Indicam vegetação queimando, ou algum incêndio residencial ou industrial”, afirmou Setzer.
Sistema elimina erros
Ao falar sobre sua inspeção em Rondônia, o vice-presidente apontou uma suposta falha de leitura. “A minha avaliação é que o calor, a massa de granito ali reflete como se tivesse fogo. O satélite identifica qualquer ponto de calor, não necessariamente sendo fogo”, disse Mourão.
Alberto Setzer, especialista do Inpe, explica que os dados oficiais de monitoramento de queimadas não apontam equivocadamente rochas, asfalto ou outros elementos como focos de incêndio.
Mesmo sem Mourão ter detalhado qual a origem dos dados usados no sobrevoo, Setzer explicou que, na ocasião, havia um foco detectado na terra indígena Uru-eu-wau-wau que foi registrado pelo satélite TERRA, e não pelo AQUA, que é o usado como referência na contabilidade das queimadas no País.
“É um foco suspeito, isolado e não detectado por nenhum outro satélite. Não dá para dizer que é uma detecção falsa, apenas suspeita”, disse Setzer.
Dados para o sobrevoo
Na quarta-feira (23), Mourão citou que o sobrevoo teve como base dados do satélite do Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), ligado ao Ministério da Defesa. Nessa quinta, questionado sobre a fonte exata dos dados, ele explicou que a origem na verdade é o Gipam, um grupo integrado de proteção à Amazônia que usa dados de todas as agências federais, inclusive do Inpe.
O coordenador do Programa de Queimadas explica que o Inpe recebe dados de 10 satélites – alguns mais antigos e outros, mais avançados, que são “extremamente confiáveis”, e considerados satélites de referência, como o AQUA.
“Alguns dos satélites muito antigos, que têm mais de 20 anos, talvez possam dar essa informação como ele [Mourão] disse – poderiam detectar uma coisa de granito muito quente. Mas isso não é usado nos cálculos, nas estatísticas. Por essa razão que nós temos esse satélite de referência, que não é sujeito a esse tipo de possível engano”, explicou o especialista.
O vice-presidente ainda levantou a possibilidade de os focos serem apontados em áreas urbanas. “O satélite identifica qualquer ponto de calor, não necessariamente sendo fogo. Quando você olha ali o mapa de calor, você vai ver, bota lá Manaus, Belém, está tudo aparecendo em vermelho porque são focos de calor”, disse Mourão.
O especialista do Inpe rebateu Mourão. “Não temos um único caso destas detecções [em nossas estatísticas] de superfícies quentes como praias, asfalto de ruas, áreas cimentadas [ou seja, todas áreas urbanas], carros e ônibus no sol, pistas de aeroportos, estradas, telhados metálicos”, rebateu Setzer.
“Os sensores [dos satélites mais novos] possuem características técnicas mais avançadas que são utilizadas pelos algoritmos, e assim os falsos alarmes são removidos”, disse. “Existem alvos quentes que podem gerar falsos alarmes, como pátios de usinas siderúrgicas e refinarias de petróleo com ‘flares’ [chamas]. Nestes casos, o monitoramento do Inpe descarta estes locais”, explicou.