Segunda-feira, 14 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 3 de janeiro de 2022
Uma série de novos estudos em animais de laboratório e tecidos humanos está fornecendo a primeira indicação sobre o motivo que faz a variante Ômicron causar um quadro mais brando da Covid-19 do que as versões anteriores do coronavírus.
Em estudos com ratos e hamsters, a Ômicron produziu infecções menos graves, muitas vezes limitadas às vias respiratórias superiores: nariz, garganta e traqueia. A variante causou muito menos danos aos pulmões, onde as variantes anteriores costumavam causar cicatrizes e sérias dificuldades respiratórias.
“É preciso dizer que a ideia de uma doença que se manifesta principalmente no sistema respiratório superior está surgindo”, afirmou Roland Eils, biólogo computacional do Instituto de Saúde de Berlim, que estudou como os coronavírus infectam as vias aéreas.
Em novembro, quando o primeiro caso sobre a variante Ômicron foi reportado na África do Sul, os cientistas só poderiam especular como seria o comportamento da nova cepa em comparação às versões anteriores do vírus. Tudo o que sabiam era que ela tinha uma combinação diferente e preocupante de mais de 50 mutações genéticas.
Pesquisas anteriores haviam mostrado que algumas dessas mutações permitiam que os coronavírus se agarrassem às células com mais força. Outras, que o vírus escapasse dos anticorpos, que servem como uma das primeiras linhas de defesa contra a infecção. Mas como a nova variante poderia se comportar dentro do corpo ainda era um mistério.
“Não é possível prever o comportamento do vírus apenas pelas mutações”, disse Ravindra Gupta, virologista da Universidade de Cambridge.
No mês passado, mais de uma dúzia de grupos de pesquisa, incluindo o de Gupta, observaram o novo patógeno em laboratório, infectando células em placas de Petri com Ômicron e espalhando o vírus no nariz dos animais.
Enquanto trabalhavam, a Ômicron se espalhou pelo planeta, infectando prontamente até mesmo pessoas que foram vacinadas ou se recuperaram de infecções.
Menos grave
Mas, à medida que os casos disparavam, as hospitalizações aumentavam pouco. Os primeiros estudos com pacientes sugeriram que a nova variante tinha chance menor de causar doenças graves do que outras cepas, especialmente em pessoas vacinadas. Ainda assim, essas descobertas vieram com muitas ressalvas.
Por um lado, a maior parte das primeiras infecções por Ômicron ocorreu em jovens, que são menos propensos a adoecer gravemente com todas as versões do vírus. E muitos desses primeiros casos estavam acontecendo em pessoas com alguma imunidade de infecções anteriores ou vinda de vacinas. Não estava claro se a Ômicron também seria menos grave em uma pessoa idosa não vacinada, por exemplo.
Experimentos em animais podem ajudar a esclarecer essas ambiguidades, porque os cientistas podem testar a variante em animais idênticos que vivem em condições idênticas. Mais de meia dúzia de experimentos tornados públicos nos últimos dias apontaram para a mesma conclusão: a Ômicron é mais branda do que o Delta e outras versões anteriores do vírus.
Recentemente, um grande consórcio de cientistas japoneses e americanos divulgou um relatório sobre hamsters e camundongos que haviam sido infectados com a Ômicron ou uma das várias variantes anteriores. Os infectados com Ômicron tiveram menos danos aos pulmões, perderam menos peso e eram menos propensos a morrer, concluiu o estudo.
Embora os animais infectados com Ômicron em média experimentassem sintomas muito mais brandos, os cientistas ficaram particularmente impressionados com os resultados em hamsters sírios, uma espécie conhecida por ficar gravemente doente com todas as versões anteriores do vírus.
“Isso foi surpreendente, uma vez que todas as outras variantes infectaram fortemente esses hamsters”, disse Michael Diamond, virologista da Universidade de Washington e coautor do estudo.
Vários outros estudos em ratos e hamsters chegaram à mesma conclusão. (Assim como a maioria das pesquisas urgentes da Ômicron, esses estudos foram postados online, mas ainda não foram publicados em periódicos científicos.)
Anatomia
O motivo de a Ômicron ser mais suave pode ser uma questão de anatomia. Diamond e seus colegas descobriram que o nível de Ômicron no nariz dos hamsters era o mesmo dos animais infectados com uma forma anterior do coronavírus. Mas os níveis de Ômicron nos pulmões eram um décimo ou menos do nível de outras variantes.
Uma descoberta semelhante veio de pesquisadores da Universidade de Hong Kong, que estudaram pedaços de tecido retirados das vias aéreas humanas durante uma cirurgia. Em 12 amostras de pulmão, os pesquisadores descobriram que a Ômicron cresceu mais lentamente do que a Delta e outras variantes.
Os pesquisadores também infectaram o tecido dos brônquios, os tubos na parte superior do tórax que levam o ar da traqueia aos pulmões. E dentro dessas células brônquicas, nos primeiros dois dias após uma infecção, a Ômicron cresceu mais rapidamente do que a Delta ou a cepa original.