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Mundo Os Estados Unidos dizem que 463 pais imigrantes podem ter sido deportados sem os filhos

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O governo tem até esta quinta-feira, por ordem judicial, para reunificar todas as crianças a seus pais. Segundo a administração, cerca de 1.200 menores já foram entregues à guarda familiar. (Foto: Reprodução)

​Pelo menos 463 imigrantes que atravessaram ilegalmente a fronteira dos Estados Unidos nos últimos meses podem ter sido deportados para seus países de origem sem os filhos, que foram separados dos pais e continuam em abrigos espalhados pelo território americano. A informação está em relatório apresentado pelo governo de Donald Trump na noite de segunda-feira à Justiça.

Segundo o documento, os dados de 463 casos indicam que “o adulto não está nos Estados Unidos”. O número se soma aos 12 casos já identificados de deportação (para crianças com menos de cinco anos de idade), chegando a um total de 475. Cada uma dessas famílias atravessou a fronteira dos EUA com o México unida, mas todas foram detidas e separadas pelas agências de imigração.

Desde abril, o governo Trump passou a aplicar uma política de tolerância zero à travessia ilegal, denunciando todos os adultos pelo crime. Com isso, os pais eram enviados a prisões federais, e as crianças, a abrigos administrados pelo governo.

Pelo menos 2.654 crianças foram separadas dos pais no período, e enviadas a abrigos. Após a repercussão negativa, Trump suspendeu a prática, e prometeu reunir as famílias. Mas os processos de deportação pela entrada ilegal continuam em andamento –e levaram à saída de alguns pais do território americano sem os filhos.

O governo tem até esta quinta-feira, por ordem judicial, para reunificar todas as crianças a seus pais. Segundo a administração, cerca de 1.200 menores já foram entregues à guarda familiar.

Traumas

Depois de quase dois meses em um abrigo nos EUA, o brasileiro Davi (nome fictício), 5, inventou uma brincadeira: chama um amigo, empurra-o contra a parede e coloca suas mãos para cima, como um policial. “Ele pediu uma arma de brinquedo para a mãe”, conta a assistente jurídica Luana Mazon, do escritório de advocacia Jeff Goldman, que assessora a família. Desde que foi reunido à mãe, na semana passada, ele quase não conversa, não come e quis voltar a mamar, no peito. “Está completamente traumatizado.”

O relato é um entre vários que advogados e famílias têm ouvido desde que dezenas de crianças imigrantes reencontraram os pais, após serem separadas por agentes ao cruzar a fronteira ilegalmente. Mudanças de comportamento, como a recusa a seguir regras, a apatia ou a completa ausência de demonstrações de carinho, também foram relatadas.

A Academia Americana de Pediatria, que se opôs à tolerância zero, já alertou que a prática pode causar traumas irreparáveis às crianças. “A verdade é que o problema não acaba aí [na reunificação das famílias]: está só começando”, comenta Liliane Costa, diretora-executiva do Brace (Centro Brasileiro-Americano), que atende imigrantes nos arredores de Boston.

A região reúne uma das maiores comunidades brasileiras nos EUA. É para lá que foram algumas das famílias reunidas nas últimas semanas. Uma delas é a da mineira Sirley Silveira, que voltou a ver o filho de dez anos no início de julho, depois de 42 dias. “A mãe disse que ele está muito estranho: está agressivo, não tem paciência, não quer obedecer, fica perguntando a toda hora o que vai fazer”, conta Mazon, que também assessora a família.

Ao mesmo tempo, o menino não quer distância da mãe. Fica com medo de vê-la sair de vista. E não gosta de lembrar o que aconteceu no abrigo onde ficou, em Chicago. Apesar de as condições materiais do lugar serem boas, segundo o relato de equipes que visitaram as crianças brasileiras, a rotina era espartana. Havia hora para levantar, para dormir e tarefas como limpar o quarto e o banheiro.

Para os brasileiros, a socialização era mais difícil, já que a maioria dos residentes falava espanhol. Irmãos foram separados em quartos diferentes. O contato com os pais se limitava a dez minutos por semana, por telefone. E, em alguns abrigos, contatos físicos com outras crianças, incluindo abraços, eram proibidos. Mesmo diante de choro.

“A gente sabe o quanto essa experiência pode ser traumática”, diz o psicólogo Daniel de Lima, que trabalha com a comunidade imigrante nos EUA.  “Essa é uma fase em que a criança está completamente dependente do outro e precisa de cuidado, até para desenvolver o próprio sentido de confiança”, comenta. “Depois da separação, na cabeça dela, correm dois sentimentos: de um lado, ela está desesperada para se reunir aos pais, mas, de outro, tem a sensação de ter sido traída.”

A volta à amamentação, como ocorreu com o menino de cinco anos, indica uma regressão psicológica, segundo Lima, para um momento em que a criança se sentia totalmente protegida.

Os sintomas podem ser mais facilmente notados em crianças menores, mas, no caso de adolescentes, a separação é igualmente prejudicial, já que pode ser o gatilho para uma revolta contra os pais. Segundo Lima, nos adultos, o sentimento a ser trabalhado é a culpa, que, no futuro, pode gerar um comportamento de superproteção.

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