Quarta-feira, 16 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 2 de maio de 2020
Na segunda quinzena de março, quando os Estados Unidos já mandavam para casa trabalhadores de segmentos não essenciais e empresas já se preparavam para cortes e demissões, a influenciadora Paige Hathway postou mensagem para seus 4 milhões de seguidores no Instagram: “A vida é difícil com a quarentena, principalmente para os que não podem trabalhar, por isso eu quis dar um presente e alguém receberá US$ 5 mil”.
A mensagem, mostrando Paige com uma pilha de notas de US$ 100, foi deletada pela rede social. Mas deu tempo para que fãs indicassem amigos e deixassem comentários desesperados e até orações. “Eu poderia usar um milagre neste minuto,” escreveu uma mulher.
Enquanto o coronavírus continua destruindo vidas e empregos americanos, o Instagram está sendo inundado de presentes em dinheiro-vivo como o de Paige. Astros de reality shows, influenciadoras e até rappers estão entrando na onda. Embora sejam considerados esmolas, estas iniciativas fazem parte de um modelo de crescimento que invadiu o Instagram.
Para os milhões norte-americanos residentes que solicitaram salário-desemprego nas últimas semanas e que lutam para cobrir custos imprevisíveis, como contas para tratamento de saúde e semanas de compras de alimentos de uma só vez, este dinheiro poderia ser uma salvação.
Paige, por exemplo, recebeu milhares de dólares pela empresa de marketing na rede social Social Stance para promover as doações no seu blog. Participantes em potencial foram instruídos a seguir uma lista de cerca de 70 contas que a Social Stance estava promovendo. A companhia cobrou US$ 900 por uma vaga na lista. Quem adquiriu vagas de “patrocinadores” poderiam ganhar milhares de novos seguidores da noite para o dia.
“Os empreendedores compram vagas para ganhar seguidores a fim de vender os seus produtos ou e-books”, acrescenta Johnson. “Modelos fazem isto para ganhar seguidores a fim de aumentar os contratos e cobrar mais para negócios com marcas. Os médicos adotaram isto para obter credibilidade e promover sua marca pessoal.”
Histórico
As distribuições de dinheiro pelo Instagram existem há anos. Surgiram por volta de 2016, quando pequenas empresas e blogueiros começaram a hospedar doações “em looping”. Para entrar, você teria de seguir um grupo de pessoas, ou “loop”, e depois voltar para a página da pessoa original e comentar. As distribuições em looping frequentemente não têm patrocinadores e existe uma colaboração entre influenciadores.
Mas no ano passado, começou a surgir a primeira grande onda de distribuições com patrocinador. Na época, a maioria das estrelas dava coisas como bolsas Louis Vuitton, mas agora todo mundo está doando dinheiro. “Na realidade, as pessoas precisam mais de dinheiro do que de bolsas, e em termos logísticos é mais difícil tirar uma foto com a celebridade e a bolsa quando todo mundo está trancado em casa”, comentou Warwick.
Com muitos acordos com marcas e viagens patrocinadas parados por causa do vírus, as doações proporcionaram aos grandes influenciadores uma maneira de ganhar pesado. “Se você fica sabendo que pode ganhar US$ 20 mil postando uma distribuição de dinheiro no Instagram, provavelmente fará isso”, garante Johnson.
A compra de vagas de patrocinadores nas distribuições também se tornaram a maneira mais rápida e mais barata de crescer no Instagram. “De repente, você consegue este monte de seguidores”, acrescenta Thomas Connelly, dentista cosmético que adquiriu vagas em distribuições das Kardashian. “O que fazem estas campanhas de distribuição é forçar a exposição aos seres humanos ao vivo. Depois, estas pessoas podem escolher se querem continuar seguindo.”
Jordan Lintz, fundador da HighKey Clout, uma das maiores companhias de distribuições do Instagram, disse que não gosta de rotular isso como “compra” de seguidores: “É como patrocinar um evento na internet”. O problema é que nem todas as distribuições são conduzidas com o mesmo grau de transparência. “Muitas páginas de memes fazem falsas distribuições neste momento”, condena.
Um porta-voz do Facebook, dono do Instagram, alertou que muitas distribuições de dinheiro podem infringir as diretrizes da comunidade de uma companhia: “Este não é o tipo de experiência que queremos criar no Instagram”.