Sábado, 04 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 25 de outubro de 2019
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta sexta-feira (25) que as manifestações que ocorreram no Chile foram um “ato terrorista”.
“O problema do Chile foi gravíssimo. Aquilo não é manifestação, nem reivindicação. São atos terroristas”, disse. O país vive uma onda de protestos desde sexta-feira (18), quando o governo chileno anunciou um reajuste na tarifa do metrô, que posteriormente foi suspenso.
Bolsonaro voltou a afirmar que tem conversado com o mistério da Defesa, caso ocorra episódios similares no Brasil. “As tropas tem que estar preparadas para fazer a manutenção da lei e da ordem”, disse.
O presidente disse ainda que já recebeu informes de reuniões e atos preparatórios de possíveis “manifestações não legais” sendo planejadas no país.
Bolsonaro também classificou de “ato terrorista” o derramamento de óleo nas nas praias do Nordeste, caso fique comprovado que não foi um acidente. Análises feitas pela Petrobras e pela Universidade Federal da Bahia apontam que o óleo tem origem na Venezuela.
Em postagem nas redes sociais, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, insinuou que o Greenpeace poderia estar por trás do incidente.
O presidente evitou culpar a ONG e disse que tinha que conversar com o ministro. No entanto, também fez críticas: “O Greenpeace não nos ajuda em nada”.
Para dar uma resposta a crise, o presidente diz que o ministério da Economia estuda o pagamento de um seguro defeso extra a pescadores, marisqueiros e caranguejeiros. O impacto fiscal estimado é de R$ 240 milhões por mês.
Veja quatro pontos para entender as recentes manifestações chilena:
1. O Chile é um país desigual?
Políticos e especialistas afirmaram que o aumento da tarifa do metrô é apenas a “ponta do iceberg” dos problemas que os chilenos estão enfrentando.
A palavra “desigualdade” ganhou protagonismo nos últimos dias, com centenas de manifestantes insistindo que a diferença social entre pobres e ricos no país é excessiva.
Segundo a última edição do relatório Panorama Social da América Latina, elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a parcela de 1% mais rica da população chilena manteve 26,5% da riqueza do país em 2017, enquanto 50% das famílias de baixa renda representavam apenas 2,1% da riqueza líquida.
Por outro lado, o salário mínimo no Chile é de 301 mil pesos (cerca de R$ 1.715,70 – no Brasil, ele é de R$ 998).
2. Qual é a responsabilidade do governo Piñera?
Tanto a oposição a Piñera quanto alguns de seus aliados concordaram que o atual governo reagiu tarde às manifestações.
Os críticos afirmaram que não houve explicações claras sobre os motivos do aumento da tarifa de transporte e que houve uma “falta de empatia” com os problemas das pessoas por parte do governo.
Além disso, a oposição tem questionado as autoridades pelo fato de o governo ter ameaçado coibir os protestos usando a Lei de Segurança do Estado, sem abordar o mérito das reivindicações. Além disso, os governistas classificaram os manifestantes como “delinquentes” por várias vezes.
3. Expectativas de melhorias sociais influenciam
Há anos, a classe política chilena vem prometendo melhorias na qualidade de vida dos cidadãos. Reformas educacionais, constitucionais, tributárias e de saúde foram anunciadas, mas muitas delas falharam em atender às expectativas da sociedade.
A agitação social resultou nessa série de manifestações que terminaram em violência e destruição.
As causas do descontentamento vieram das expectativas geradas pela sequência de dois governos antagônicos: Michelle Bachelet (de 2006 a 2010 e depois de 2014 a 2018), de centro-esquerda, e Sebastián Piñera, de centro-direita – que também liderou o país em um período anterior, entre 2010 e 2014.
4. Qual é o papel dos estudantes nas manifestações?
Os recentes protestos foram liderados principalmente por estudantes.
A primeira manifestação ocorreu na segunda-feira, 7 de outubro, liderada por estudantes de escolas emblemáticas, principalmente do Instituto Nacional. Este estabelecimento, fundado em 1813, foi o ponto central de organização de protestos.
As reclamações têm a ver com a “falta de recursos” para a educação chilena e precariedade nas salas de aula.