Domingo, 13 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 23 de outubro de 2020
Pessoas com síndrome de Down têm dez vezes mais risco de morrer de covid-19 em comparação àquelas fora dessa condição, informou uma equipe de pesquisadores na última quinta-feira (22).
Os cientistas também descobriram um risco quatro vezes maior de internações relacionadas ao novo coronavírus para aqueles com síndrome de Down, “um grupo que atualmente não está estrategicamente protegido”, de acordo com o relatório do jornal acadêmico Annals of Internal Medicine.
“Isso ocorreu após o ajuste para doenças cardiovasculares e pulmonares e para pessoas que vivem em casas de repouso, que nossos resultados sugerem que explicam alguns, mas não todos, os riscos aumentados” para as pessoas com a síndrome, afirmaram os pesquisadores.
A análise envolveu mais de oito milhões de adultos que faziam parte de um projeto de avaliação de risco do novo coronavírus patrocinado pelo governo britânico.
Dos 8,26 milhões de pessoas no estudo de rastreamento, 4.053 tinham síndrome de Down. Destas, 68 morreram e 40% destas mortes foram causadas pela covid-19 – 17 morreram de pneumonia ou pneumonite e as demais, de outras causas.
Esses números se comparam às mais de 41 mil pessoas sem síndrome de Down que morreram, mas apenas 20% de covid-19, 14% de pneumonia ou pneumonite e 65% de outras causas.
A síndrome de Down não está incluída em nenhuma orientação dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês) dos Estados Unidos ou do Ministério da Saúde do Reino Unido como uma condição que colocaria as pessoas em maior risco de contrair covid-19.
“No entanto, ela está associada a disfunção imunológica, insuficiência cardíaca congênita e patologia pulmonar e, dada sua prevalência, pode ser um fator de risco relevante, embora não confirmado, para covid-19 grave”, concluíram os pesquisadores.
O que é
Síndrome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, é uma alteração genética causada por um erro na divisão celular durante a divisão embrionária. Os portadores da síndrome, em vez de dois cromossomos no par 21 (o menor cromossomo humano), possuem três. Não se sabe por que isso acontece.
Às vezes, pode ocorrer a translocação cromossômica, isso é, o braço longo excedente do 21 liga-se a um outro cromossomo qualquer. Nesses casos, portanto, não existe um cromossomo a mais, pois o 21 em excesso se encontra ligado a outro cromossomo.
Alterações provocadas pelo excesso de material genético no cromossomo 21 determinam as características típicas da síndrome:
– Olhos oblíquos semelhantes aos dos orientais, rosto arredondado e orelhas pequenas;
– Hipotonia: diminuição do tônus muscular, que faz com que o bebê seja menos rígido e contribui para dificuldades motoras, de mastigação e deglutição, atraso na articulação da fala e, em 50% dos casos, problemas do coração;
– Às vezes, a língua é grande, o que, junto com a hipotonia, faz com que o bebê fique com a boca aberta;
– Mãos menores com dedos mais curtos e prega palmar única em cerca de metade dos casos;
– Em alguns casos existe excesso de pele na parte de trás do pescoço;
– Em geral a estatura é mais baixa;
– Há tendência à obesidade e a doenças endócrinas, como diabetes e problemas como hipotireoidismo;
– Cerca de 5% dos portadores têm problemas gastrointestinais;
– A articulação do pescoço pode apresentar certa instabilidade e provocar problemas nos nervos por compressão da medula;
– Deficiências auditiva e de visão podem estar presentes;
– Maior risco de infecções (principalmente as otites, infecções de ouvido) e leucemias;
– Comprometimento intelectual e, consequentemente, aprendizagem mais lenta.
Durante a gestação, o ultrassom morfológico fetal para avaliar a translucência nucal (realizado entre 11 e 14 semanas) pode sugerir a presença da síndrome, que só é confirmada pelos exames de amniocentese e amostragem das vilosidades coriônicas.
Depois do nascimento, o diagnóstico clínico de síndrome de Down é comprovado pelo exame do cariótipo (estudo dos cromossomos), que também ajuda a determinar o risco, em geral baixo, de recorrência da alteração em outros filhos do casal. Esse risco aumenta quando a mãe tem mais de 40 anos.