Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 25 de junho de 2015
A PF (Polícia Federal) apreendeu um bilhete manuscrito pelo presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, no qual há a expressão “destruir e-mail sondas. US RR”. O bilhete começa com a frase “pts p/ o hc” e lista uma série de pontos que fazem referência a acusações contra a empreiteira. O empresário, que estava fora da cela para encontrar com seus advogados, afirmou aos agentes federais que o bilhete seria entregue a eles. O papel foi apreendido às 10h de segunda-feira, foi fotocopiado pela PF e encaminhado ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, na manhã desta quarta-feira (24).
Um dos agentes da PF que faziam a segurança do local acredita que o empresário tenha uma “mania”, pois sempre sai da cela com algum papel escrito nas mãos e presume que ele tenha sido ingênuo ao imaginar que seu bilhete não seria examinado pelos policiais, como é praxe nas prisões do País.
Outra possibilidade, segundo o agente declarou em depoimento à PF, é que o empresário tenha feito as anotações para que ele mesmo se lembrasse de pontos a serem conversados com os advogados. De acordo com o agente, Odebrecht se encontraria, naquele momento, com quatro de seus defensores. Convocados pelo delegado da PF a falarem sobre o teor do bilhete, os advogados da multinacional, Dora Cordani e Rodrigo Rios, afirmaram que o verbo “destruir” se referia a uma estratégia processual e não supressão de provas.
Segundo eles, o bilhete original já havia sido levado para São Paulo. Conforme o delegado Eduardo Mauat afirmou na representação encaminhada a Moro, os advogados foram informados que, independentemente da posição deles, “havia clara possibilidade” de ter havido orientação para a prática de conduta estranha à relação advogado-cliente. Os advogados teriam sido avisados que deveriam entregar o bilhete original em 24 horas. Porém, segundo Mauat, até a manhã desta quarta-feira eles não o fizeram.
Os agentes da PF disseram ter tido dificuldade inicial de entender o bilhete, devido à letra do empresário, mas que conseguiram identificar rapidamente a expressão “destruir e-mail sondas”. O bilhete de Odebrecht, logo após a expressão “destruir e-mail sondas vs RR” diz: “e-mail rr era da Braskem assim que conseguir recuperar por lá história de iniciativa André Esteves. Lembrar que naquela época sete = Petrobras off balance portanto ajudar Sete era visto como ajudar Petrobras. Lembrança Sete Brasil (ilegível)”.
A PF havia apreendido na sede da Odebrecht em São Paulo um e-mail enviado pelo executivo Roberto Prisco Ramos para executivos da Odebrecht, incluindo Marcelo. Neste e-mail, cujo assunto é “sondas”, havia menção a sobrepreço, que a Odebrecht alegou ser uma expressão de mercado.
O e-mail foi endereçado ainda para Márcio Faria e Rogério Araujo, dois executivos da Odebrecht apontados por delatores da Lava-Jato como representantes da Odebrecht no cartel que agia na Petrobras. A Sete Brasil foi criada para produzir sondas para o pré-sal e tem como maior acionista o banco BTG Pactual, do banqueiro André Esteves.
Principal prova do MPF
A existência deste e-mail de Ramos, endereçado ao executivo, é uma das principais provas apresentadas pelo Ministério Público Federal de que o presidente da Odebrecht sabia das manobras do cartel e participava diretamente delas. “Falei com o André em um sobre-preço no contrato de operação da ordem de $20-25000/dia [por sonda]. Acho que temos que pensar bem em como envolver a UTC e OAS, para que eles não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e operação de sondas. Já temos muitos brasileiros aventureiros neste assunto [Schahim, Etesco…]”. O “André” citado no e-mail pode ser André Esteves, cujo nome foi grafado inteiramente no bilhete de Marcelo a seus advogados.
O delegado da PF informou o juiz Moro que notificou a Braskem, desde as buscas realizadas na sede da empresa, a apresentar em cinco dias os arquivos da caixa de e-mail de Ramos, que ficam guardados em empresa terceirizada. A PF acredita que Marcelo Odebrecht tenha se referido a Roberto Prisco Ramos como “RR” no bilhete manuscrito apreendido com ele na carceragem.
A Braskem afirmou em nota que todo o conteúdo do e-mail, incluindo a operação de sondas, não tem relação com qualquer atividade da Braskem. A empresa diz que Prisco Ramos trabalhou na Braskem até dezembro de 2010 e, na data da referida mensagem, já havia sido transferido para outra empresa da Organização Odebrecht. (AG)