Quinta-feira, 31 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2025
Características genéticas e o aumento do peso, principalmente da gordura visceral, levam a uma maior resistência do corpo à insulina.
Foto: ReproduçãoEm oito anos, os atendimentos ambulatoriais de crianças e adolescentes por diabete tipo 2 cresceram 225% no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde referentes ao período de 2015 a 2023. No mesmo intervalo, no Estado de São Paulo, os números subiram cerca de 130%, de acordo com a secretaria estadual de Saúde.
Além dos casos já estabelecidos, muitos jovens podem estar em um estágio chamado de pré-diabete, o que demanda atenção e medidas para evitar a progressão para o diabete tipo 2. O pré-diabete é a condição em que os níveis de glicose (açúcar) no sangue estão acima do normal, mas não altos o suficiente para serem classificados como o tipo mais comum da doença, que ocorre quando o corpo não consegue produzir insulina corretamente e as células se tornam mais resistentes à sua ação.
Características genéticas e o aumento do peso, principalmente da gordura visceral, levam a uma maior resistência do corpo à insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que tem como função principal colocar a glicose dentro das células para gerar energia.
Em resumo, a gordura visceral leva à resistência, que por sua vez sobrecarrega o pâncreas, o qual precisa trabalhar em dobro para que a glicose seja processada. Essa sobrecarga acaba fazendo com que o órgão não consiga mais produzir insulina como antes. E é assim que o pré-diabete se desenvolve: a partir de um mix de resistência à insulina, gordura abdominal em excesso e um pâncreas “cansado”.
Como resultado, sobra açúcar no sangue. “É preocupante, pois se caracteriza pelo risco aumentado para o desenvolvimento futuro de diabete tipo 2, além de doenças cardiovasculares”, diz Tarissa Petry, endocrinologista do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Avanço
Um relatório publicado na revista JAMA Pediatrics indica que 28% dos adolescentes e jovens norte-americanos têm pré-diabete. Segundo o estudo, em cerca de 20 anos a prevalência do quadro entre pessoas com idades de 12 a 19 anos mais do que dobrou.
No Brasil, assim como o diabete, a condição também tem surgido cada vez mais cedo, afirma o médico Fernando Valente, diretor do Departamento de Diabete Mellitus da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem). Não à toa, a recomendação médica sobre quando investigar o quadro mudou. “A idade foi modificada de 45 anos para a partir dos 35, mesmo sem fator de risco”, diz.
Pessoas com fatores de risco, como sobrepeso ou obesidade, síndrome de ovários policísticos e histórico familiar, devem realizar os testes antes dos 35 anos. De acordo com Valente, a triagem pode começar a partir de 10 anos de idade, caso a criança tenha excesso de peso e algum outro fator de risco associado.
O aumento dos casos de pré-diabetes entre os jovens está especialmente ligado ao avanço do sobrepeso e da obesidade nessa faixa etária, diz Valente. O principal vilão? Um estilo de vida com hábitos distantes do ideal. “Cada vez menos as pessoas consomem salada, fruta sólida ou alimentos ricos em fibras, que poderiam reduzir os riscos”, exemplifica o médico. E a queda na prática de atividade física também pesa na conta.
Sintomas
E não são só os jovens. De acordo com o atlas da Federação Internacional de Diabetes (IDF), em 2024, 15,2 milhões de pessoas no Brasil receberam diagnóstico de glicose em jejum prejudicada e 17,7 milhões, de tolerância à glicose diminuída, dois marcadores laboratoriais que alertam para o pré-diabete.
O pré-diabete geralmente é assintomático, pois a glicemia ainda não está alta o suficiente para manifestações clínicas. Assim, a maioria só descobre a condição ao fazer exames de rotina. Fora isso, alguns sinais são: aumento da sede e da fome; micção frequente; fadiga; visão turva; dormência ou formigamento nas mãos e nos pés; feridas que não cicatrizam; infecções frequentes; perda de peso não intencional.
(Com informações do O Estado de S.Paulo)