Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 3 de agosto de 2022
Interpretar José Leôncio em “Pantanal” tem funcionado como um processo psicanalítico para Marcos Palmeira. O ator levou um tempo até achar o tom do personagem e só conseguiu calibrá-lo quando se deu conta do motivo que o travava: a dificuldade em aceitar que envelheceu. Com jeito de garoto, mas prestes a completar 59 anos, dia 19, Marquinhos, como é chamado pelos amigos, precisou assumir para si mesmo que o tempo passou. Só aí conseguiu desatar o nó.
“Eu me toquei que estava lendo o texto da novela como se ainda fosse o Tadeu (papel que interpretou na primeira versão) e tivesse 27 anos. Daqui a pouco, vou fazer 60 anos! Nem parei para pensar nisso ainda. A gente não se sente assim, né? Se não olha no espelho, ninguém se sente velho”, diz ele, acrescentando que a ficção já lhe ajudou a destrinchar outros conflitos pessoais. “Às vezes, estou com questões que não sei como resolver e o personagem aparece com a solução. Zé Leôncio fez eu me ver como um homem maduro.”
Casado com a diretora Gabriela Gastal desde 2016, ele conta que os dois encontraram o equilíbrio da relação. Que o conforto veio quando cada um achou seu espaço e entendeu que as dificuldades fazem parte. A sintonia está fluindo tão bem eles decidiram trabalhar juntos pela primeira vez. Será na série batizada de “Dezamores”, uma adaptação do livro homônimo do carioca Pedro Ayres sobre relações. Será a estreia de Marcos na direção.
“Sempre achei que diretor tem que ser muito culto, e eu não sou esse cara”, diz ele, que carrega uma culpa por nunca ter gostado de estudar e por não ter lido tantos livros na vida. “Mas estou precisando experimentar, curioso para ver se sou capaz de contar essa história, que está ligada à questão da comunicação nas relações de amor em geral, de casal, entre amigos, na família…”, diz.
O ator também se prepara para estrear o longa “O barulho da noite”, de Eva Pereira, no Festival do Rio. “É um filme de arte, que aborda assuntos como assédio e pedofilia. Dá bons toques sobre o que acontece nesses rincões do Brasil e não chega na gente. Se uma mulher na cidade tem medo de denunciar, imagina a do interior? Passa a vida toda naquela situação de opressão.”
Assim que acabar “Pantanal”, Marcos vai gravar a série “A era dos humanos” para o Globoplay. A ideia do projeto é mostrar ao telespectador o está por trás das mudanças climáticas. Falar sobre como tudo na natureza está conectado e em equilíbrio e como as decisões do homem impactaram o planeta. A produção será rodada em Abrolhos, no Pantanal e na Amazônia.
A questão do meio ambiente sempre foi uma bandeira do ator. Sua fazenda, Vale das Palmeiras, é a maior produtora de laticínios orgânicos do estado do Rio. Também produz hortaliças. Ele enxerga os alimentos como uma “forte ferramenta política”. Diz que consumidor tem que chegar no supermercado e dizer: “Isso aqui eu não quero”.
Mas um dos mais famosos apoiadores de Marina Silva tem esperança de que é possível “virar esse barco”. Deseja interromper o “strike que o atual governo está fazendo” (“A morte de Bruno e Dom é simbólica desse mundo de ninguém. Podendo, eles vão matar mesmo”). Se agarra, então, às próximas eleições. Espera que o próximo presidente “reequilibre” o país. Marcos crava o voto em Lula no segundo turno, mas afirma que ainda não sabe que escolha fará no primeiro turno.
“Se chegar na véspera da eleição e eu sentir que ninguém tem chance de derrotar esse presidente, voto no Lula. Ao mesmo tempo, o que o Ciro está propondo? Talvez seja o mais capacitado, mas tem esse lugar de bater na mesa… Não conheço o histórico da Simone Tebet, mas é uma mulher, advogada. Qualquer um será melhor do que esse aí, e a Nova Carta aos Brasileiros (manifesto que circula em defesa da democracia) mostra bem isso. Independente da sua política, é uma questão de humanidade, de respeitar realmente as diferenças.”
Marcos também critica o tratamento dado pelo PT a Marina Silva quando ela pediu para deixar o cargo de Ministra do Meio Ambiente, em 2008, e quando foi adversária de Dilma Rousseff nas eleições de 2014. “Não sei como a Marina tem casca para aguentar. Foi tudo muito pesado. O jeito que o PT a tratou, o próprio ex-presidente Lula… Ele dizer que ela precisava falar com Deus antes de tomar uma decisão (no momento em que Marina quis deixar o posto de ministra). Criaram essa cara da Marina. Trataram como se fosse vaidade dela, como se ela estivesse carente”, afirma. “A impressão que tenho é que não pensam, necessariamente, no que é bom para todo mundo, mas no que é bom para o PT e para o Lula nesse momento. Isso é o que menos importa, tem um jogo muito maior. Os petistas assimilam rápido Geraldo Alckmin (como vice de Lula), topam o que vem. Tem que discutir e tem que cobrar também: ‘Qual é o projeto de governo?’. Não dá para fazerem um acordo incondicional.” As informações são do jornal O Globo.