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Tito Guarniere Retórica manjada

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A discussão entre esquerda e direita está sempre na pauta. (Foto: Reprodução)

A discussão entre esquerda e direita está sempre na pauta. Faria sentido e lógica se sobre esses conceitos houvesse uma razoável concordância. Mas cada grupo – senão cada indivíduo – tem seu próprio juízo de valoração, cada um tem para si a sua direita e a sua esquerda.

No mais das vezes, tudo se reduz a um sistema bastante precário de princípios e valores, que nem de longe abrange as múltiplas variáveis, a complexidade da vida social, as nuances do pensamento político. Para muita gente, talvez a maioria, a esquerda defende os pobres, os oprimidos, os trabalhadores; e a direita é o lugar político dos ricos e dos proprietários dos meios de produção. A esquerda é progressista e a direita, conservadora.

É uma divisão superficial e enganosa. Pode-se admitir que a esquerda é mais eficaz para distribuir os bens e a riqueza. Mas também não existe nenhuma dúvida de que a direita, ou se quiserem, o capitalismo, tem a primazia na criação da riqueza e na geração desses bens. Os bens, os serviços, vêm antes de seu uso e distribuição. É mais desafiante e trabalhoso criar e produzir bens e mercadorias, estruturar serviços para o uso da população, do que apenas distribuí-los.

Na grande regra, a esquerda ignora ou despreza o esforço de produção. Para ela, a propriedade privada dos meios de produção concentra a renda e espolia os trabalhadores: o patrão fica com a parte do leão do que foi produzido pelo esforço comum, cabendo ao empregado apenas as sobras.

Isso é verdadeiro mas só em pequena parte. Basta pensar o que faria o trabalhador da indústria ou o prestador de serviços, se ele tivesse que dispor dos seus próprios meios de produção ou se tivesse de pagar por eles – insumos, máquinas, veículos, aparelhos eletrônicos, custos de aluguéis, telefone, luz, água, impostos. As relações entre o empregado e o patrão são, no mais das vezes, uma relação consentida, um acordo de interesses, mais de cooperação do que de conflito. Nem tudo é luta de classes.

Não há luta de classes, por exemplo, no amplo universo dos servidores públicos. Se é uma relação de exploração, quem explora os funcionários públicos? O Estado? Mas o Estado é apenas uma ficção jurídica. Os chefes, os escalões superiores? Mas estes têm o mesmo status jurídico dos funcionários subalternos. E os funcionários de fundações, sociedades civis sem fins lucrativos (como as ONGs), condomínios, cooperativas, que não têm donos nem acionistas, e cujos meios de produção pertencem a um coletivo não proprietário? Quem explora esses trabalhadores (e são milhares deles)?

Quem explora os empregados das entidades sindicais (no Brasil são mais de 15 mil sindicatos)?

Nesse caso, são os trabalhadores que exploram os seus pares, os outros trabalhadores?

A divisão entre esquerda e direita é um resumo do resumo, uma redução da redução, uma simplificação rasa da qual se lança mão para reforçar o argumento, a razão de cada um, principalmente à esquerda. Mas é de pouca serventia para um debate honesto sobre os fenômenos da produção, da economia e das relações sociais. Trata-se de uma figura manjada de retórica, que mais confunde do que explica.

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https://www.osul.com.br/retorica-manjada/ Retórica manjada 2021-04-17
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