Quinta-feira, 28 de março de 2024

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Tito Guarniere De dentro

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Presidente e ministros participaram de reunião virtual com representantes do setor produtivo em evento organizado pelo presidente da Fiesp, Paulo Skaf. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Bolsonaro se move por impulsos – deve ser por causa da dificuldade de pensar, raciocinar, avaliar o quadro e os desdobramentos de suas decisões.

Só o jornalista Alexandre Garcia, que defende como um porta-voz as ações do governo, talvez para amainar o desconforto de ser desmentido todos os dias pelos fatos, exagerou na dose: a reforma ministerial teria sido uma decisão pensada, planejada de Bolsonaro. Se Garcia tem razão, então fica pior, porque só um governante com algum deficit de cognição tomaria resoluções de forma tão estabanada.

Que ele mudasse o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, o mais despreparado, atrasado e preconceituoso que este país já teve, vá lá – esse já foi tarde. Mas alterar toda a estrutura da defesa e segurança nacional, mudar o ministro e os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, de uma só penada, de hora para outra, é um perigoso exercício de inconsequência.

É que Bolsonaro tem uma vaga noção do que sejam instituições. Tudo para ele se resume ao conceito de que o presidente é o chefe supremo das forças armadas – ele ouviu isso em algum lugar. Quando explicaram, no quartel ou algures, sobre a tripartição dos poderes, o funcionamento do Estado, os fundamentos da vida nacional e republicana, o sistema político, ele faltou à aula, não prestou atenção ou não absorveu.

Mas da patuscada resta um dado positivo: Bolsonaro não poderá contar com o apoio das forças armadas para aventuras golpistas. Os três comandantes das maiores corporações militares do país, diante do ato abrupto e desrespeitoso da demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, inconformados, renunciaram juntos aos respectivos cargos. Não pode ser mais eloquente.

O presidente, então, a partir do gesto altivo dos comandantes militares, não tem de ficar falando em “meu Exército”. O Exército não é de ninguém, as forças armadas são instituições do Estado brasileiro. É da compreensão comum, mas é isso que Bolsonaro não compreende.

Foi no governo Fernando Henrique que se criou o Ministério da Defesa, com a regra assentada de que poderia ser ocupado por um civil. Os militares, em geral, não gostam de FHC – por causa disso e porque foi no seu governo que caíram alguns privilégios inaceitáveis nas forças armadas, como a pensão vitalícia para as filhas solteiras de militares. Esses avanços republicanos foram obtidos sem afronta, em demoradas (e difíceis) negociações com os chefes militares.

Não foi inteligente nos governos Lula e Dilma nomear políticos para o Ministério da Defesa, e ainda mais notoriamente de esquerda, como Waldir Pires, Jacques Wagner e até um comunista (ainda que “light”) Aldo Rebelo. Das casernas, dos quartéis, dava para ouvir o burburinho de que se tratava de uma espécie de retaliação por causa do regime militar de 1964 – ajudou a criar o clima que elegeu Bolsonaro.

De todo o modo, FHC, Lula, Dilma, adversários e vítimas do golpe de 1964, jamais chamaram o Exército de “seu”, nunca rondaram os quartéis em busca de apoio para suas políticas, não causaram nada parecido com uma crise militar. A bagunça veio de dentro, de um ex-capitão do Exército.

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