Segunda-feira, 07 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 7 de janeiro de 2021
Durante semanas, o presidente Donald Trump e seus apoiadores proclamaram o dia 6 de janeiro de 2021 como o dia de acertar as contas. Um dia para se reunir em Washington para “salvar a América” e “impedir o roubo” da eleição que ele havia definitivamente perdido, mas que ele ainda assegurava — muitas vezes por meio de uma mistura tóxica de teorias da conspiração — que havia vencido por uma vantagem devastadora.
Quando esse dia chegou, o presidente reuniu milhares de apoiadores com um discurso incendiário. Em seguida, uma grande multidão desses apoiadores, muitos agitando bandeiras e vestindo roupas com o nome de Trump, invadiu violentamente o Capitólio para tomar o controle dos salões do governo e obrigar funcionários eleitos a se esconderem, temendo por sua segurança.
Um dos aspectos mais perturbadores deste dia foi que era possível vê-lo chegando. O presidente quase o marcou no calendário da nação.
“Grande protesto em D.C. [Washington, D.C.] em 6 de janeiro”, Trump tuitou em 19 de dezembro. “Esteja lá, será selvagem!”
E seus apoiadores acreditaram na palavra do presidente.
“Se você não está preparado para usar a força para defender a civilização, então esteja preparado para aceitar a barbárie”, postou um membro do grupo Red-State Secession no Facebook na véspera do dia marcado, 6 de janeiro.
Abaixo dele, dezenas de pessoas postaram comentários que incluíam fotos do armamento — incluindo fuzis — que eles diziam estar planejando levar para o local. Também houve comentários fazendo menção a “ocupar” o Capitólio e forçar o Congresso a derrubar a eleição de novembro que Joe Biden havia vencido.
Renée DiResta, uma pesquisadora que estuda movimentos on-line no Observatório da Internet de Stanford, disse que o episódio violento no Capitólio na quarta-feira foi o resultado de movimentos on-line operando em redes sociais fechadas, onde alegações de fraude eleitoral e roubo de eleições encontraram oxigênio.
As raízes de um dos momentos mais sombrios da democracia americana remontam a pelo menos 4 de novembro, um dia após a eleição presidencial que Trump perderia para Biden. Naquele dia, o primeiro grupo Stop the Steal (“Parem o roubo”, em tradução livre) foi formado no Facebook — e rapidamente decolou, chegando a ter uma média de 100 novos membros a cada 10 segundos. O grupo chegou a 320 mil seguidores antes de o Facebook fechá-lo.
À medida que centenas de novos grupos Stop the Steal continuavam a surgir, o Facebook tornou-se mais agressivo ao fechá-los, levando apoiadores de extrema direita de Trump a migrar para redes sociais menos restritivas, incluindo Parler e Gab. E foi nesses ambientes que um movimento para organizar um protesto pró-Trump em Washington ganhou tração.
Em meados de dezembro, dezenas de ações judiciais movidas por apoiadores de Trump contestando os resultados haviam fracassado. Então, em 14 de dezembro, Biden garantiu votos suficientes no Colégio Eleitoral para confirmar sua vitória. A última formalidade antes de sua posse em 20 de janeiro seria a contagem oficial dos votos eleitorais pelo Congresso, a ser supervisionada pelo vice-presidente Mike Pence em 6 de janeiro.
O momento tem sido tradicionalmente visto como mais uma garantia da transferência do poder na República. Mas Trump e seus apoiadores estavam publicamente classificando a formalidade deste ano como criminosa, fraudulenta — até mesmo traidora. E o presidente continuava tuitando:
Em 27 de dezembro: “Nos vemos em Washington em 6 de janeiro. Não perca. Informações a seguir”.
Em 30 de dezembro: “SEIS DE JANEIRO, VEMOS VOCÊ EM DC [Washington, D.C.]!”
Em 1º de janeiro: “O grande protesto” em Washington, D.C. acontecerá às 11h em 6 de janeiro. Detalhes da localização a seguir. StopTheSteal!”
No dia seguinte, 2 de janeiro, o senador Ted Cruz, do Texas, e 11 outros senadores republicanos juntaram-se a outro republicano, Josh Hawley, do Missouri — além de outros 100 membros republicanos da Câmara dos Deputados — prometendo contestar a certificação da vitória de Biden.
Então, amanheceu 6 de janeiro, o dia de acertar as contas. Milhares se reuniram no Centro de Washington. A multidão incluía entre 2.000 e 2.500 membros dos Proud Boys, de acordo com Enrique Tarrio, presidente do grupo.
Qualquer esperança de que o vice-presidente Mike Pence, como presidente do Senado, impediria a confirmação da vitória de Biden foi destruída. Pence disse em uma carta que o vice-presidente não tinha esse poder.
“A Presidência pertence ao povo americano, e somente a ele”, escreveu.
Então, ao meio-dia, Trump começou a fazer um discurso para seus entusiasmados seguidores.
À tarde, o presidente criticou seu vice-presidente por não ter “a coragem de fazer o que deveria ser feito para proteger nosso país e nossa Constituição”. Nas horas que viriam, seus apoiadores, carregando bandeiras e vestindo roupas que tinham seu nome, iriam invadir o Capitólio em um episódio caótico que levaria à implementação de um toque de recolher e que deixaria ao menos quatro mortos.