Segunda-feira, 09 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2016
Ocasal Laura Jacques e Richard Remde voaram do Reino Unido, onde moram, até a Coreia do Sul. Eles passaram o Natal no país asiático com um único propósito: buscar dois filhotes de cachorro. Eles são frutos de uma clonagem do animal de estimação que o casal tinha antes – e que havia morrido. Eles foram os primeiros clientes britânicos de uma empresa sul-coreana, a Sooam Biotech Research Foundation, que se especializou em clonar cachorros, cobrando 100 mil dólares.
O boxer do casal, chamado Dylan, havia morrido em junho por causa de um tumor no cérebro, deixando Laura desolada. “Eu tinha Dylan desde que ele era muito pequeno”, diz. “Ele era meu bebê, meu filho, meu mundo inteiro.” Quando Laura recebeu a confirmação de que tudo tinha dado certo com a clonagem do seu cão, ficou extasiada. “Eu não conseguia acreditar, minhas pernas começaram a tremer”, diz ela, que trabalha justamente como passeadora de cães.
Óvulo é implantado em uma cadela “barriga de aluguel”.
O laboratório sul-coreano já produziu mais de 700 cachorros para seus clientes, façanha única no mundo. Boa parte dos interessados é dos EUA. A técnica envolve inserir o DNA do animal doador em um óvulo canino que teve o seu núcleo removido. A divisão celular é estimulada por meio de choques elétricos e, então, o óvulo é implantado em uma cadela “barriga de aluguel”.
Os dois filhotes que o casal foi buscar na Coreia terão DNA idêntico ao de Dylan e provavelmente serão parecidos com ele tanto fisicamente como no comportamento. As amostras de DNA tinham sido extraídas de Dylan após ele morrer – a princípio, basta que as células utilizadas para fornecer o material genético ainda estejam saudáveis.
Woo-Suk Hwang, um dos principais pesquisadores do laboratório Sooam, é uma figura controversa. Em 2004, ele liderou um grupo de pesquisa da Universidade de Seul que afirmou ter conseguido clonar embriões humanos em um tubo de ensaio – ele teria conseguido células-tronco clonadas, um grande feito. Mas uma revisão científica independente mostrou que não havia evidências que eles de fato tivessem feito isso e, em 2006, a revista Science, que havia publicado o artigo científico original, divulgou uma retratação.
De qualquer forma, está comprovado que Hwang de fato foi o pioneiro na clonagem de cachorros – ele fez isso em 2005, quando nasceu um cãozinho chamado Snuppy. A ovelha Dolly nasceu em 1996. Ainda assim, o trabalho comercial de Hwang com os cachorros tem muitos críticos.
A Sociedade Protetora dos Animais da Grã-Bretanha critica a clonagem de cachorros. Em nota, a organização disse que há “fortes preocupações éticas e de bem-estar”, pois alguns estudos apontam que animais clonados sofrem mais frequentemente com tumores, pneumonias e outras doenças.
David Kim, cientista na Sooam, afirma que o seu laboratório atua com ética. “Nós temos inspetores independentes, tanto do governo quanto externos. E há procedimentos que seguimos. Nós não usamos a mesma cadela como ‘barriga de aluguel’ mais de uma vez, por exemplo.”
Identidade não é total.
Outra questão é que um animal clonado nunca vai ser exatamente idêntico ao animal que deu origem a ele. O DNA nos cromossomos pode ser igual, mas os bichos terão sido gestados em diferentes úteros, e nascerão em época e lugares diferentes, o que significa que terão experiências e criação de algum modo diferentes – e o ambiente, e não apenas a genética, também define a personalidade. No que se refere à aparência, a tendência é que seja bastante parecida. Mas não é, definitivamente, o mesmo animal. Há coisas que não se pode ter duas vezes.