Terça-feira, 09 de setembro de 2025
Por Gisele Flores | 8 de setembro de 2025
Queda de 51% nas vendas, comparada à edição anterior, não é apenas um dado econômico. É um reflexo direto da angústia
Foto: Joaquim MouraA 48ª Expointer, encerrada em Esteio, foi um espetáculo de público — quase um milhão de visitantes cruzaram os portões do Parque Assis Brasil. Mas por trás dos aplausos e das vitrines reluzentes, o setor de máquinas e implementos agrícolas viveu um capítulo silencioso, quase doloroso. A queda de 51% nas vendas, comparada à edição anterior, não é apenas um dado econômico. É um reflexo direto da angústia que pulsa no coração do produtor rural gaúcho.
O volume de negócios caiu de R$ 7,39 bilhões em 2024 para R$ 3,77 bilhões em 2025. E não foi por falta de tecnologia, inovação ou esforço das mais de 120 empresas associadas ao SIMERS — Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do RS. Foi por falta de condições. O produtor está exausto. Foram quatro secas consecutivas, uma enchente devastadora, crédito rural inacessível, juros sufocantes e dívidas que não cessam. O campo, que alimenta o país, está pedindo socorro.
O SIMERS, mesmo diante da retração, manteve sua postura firme e estratégica. Transformou a feira em palco de articulação política, defesa institucional e escuta ativa. Representando um setor que responde por 60% da produção nacional de máquinas agrícolas, o sindicato não se calou. Levou aos corredores da Expointer a voz de quem não pôde investir, mas precisa continuar produzindo. E isso é política no seu sentido mais nobre: representar quem não tem tempo de parar para pedir ajuda.
A feira também revelou um dado inquietante: 59% das vendas foram feitas para compradores de fora do Rio Grande do Sul. O produtor gaúcho, que sempre foi referência em mecanização, está em compasso de espera. E essa espera não é por comodismo — é por sobrevivência. O agro gaúcho está em alerta, e o setor de máquinas é o termômetro mais preciso dessa tensão.
É preciso reconhecer que o SIMERS não apenas representa indústrias — ele representa esperança. Cada trator não vendido é uma lavoura que talvez não se renove. Cada implemento que permanece no estande é uma safra que pode não acontecer. E cada produtor que sai da feira sem fechar negócio é um elo da cadeia produtiva que se fragiliza.
A Expointer 2025 foi, sim, um sucesso de público. Mas o verdadeiro sucesso será medido nos próximos meses, quando as decisões tomadas — ou adiadas — nesta feira se refletirem nas lavouras, nos empregos e na mesa do brasileiro. O campo não pode esperar. E o setor de máquinas, com sua força industrial e sua capacidade de inovação, precisa ser ouvido com urgência.
Porque quando o silêncio das máquinas se torna mais alto que o barulho da feira, é sinal de que o agro está pedindo mais do que aplausos. Está pedindo ação.